Em linguagem normal, é isto que uma empresa diz de uma outra ou de alguém que ajuda a desviar os seus clientes, para uma empresa concorrente, de uma forma que não é lícita ou transparente.

Os países, como economias, não estão imunes a estes ataques, mas nestes casos ganham dimensões inesperadas e públicas, pela importância que a Comunicação tem nesses processos.

É o que está acontecer connosco, com Portugal.

Poderíamos dizer que tudo começou publicamente quando, há duas semanas atrás o primeiro-ministro grego convidou toda a imprensa internacional a visitar o conhecido destino turístico grego, Santorini, para anunciar a abertura das fronteiras, com algumas exceções, onde ficava realçado de uma forma inesperada, Portugal. A mensagem era clara: o nosso país estava infetado, e não se poderia permitir que nacionais desse país visitassem a Grécia (e implicitamente, também não era desejável como destino turístico a quem quer que fosse).

Todavia, a importância deste tema já tinha vindo a lume no início do mês quando a ministra do Turismo de Espanha tinha anunciado unilateralmente, sem combinação prévia com as autoridades portuguesas, que a fronteira entre os 2 países reabriria a 22 de Junho, voltando posteriormente atrás nessa decisão.

Mas é agora, neste final de mês de Junho, que acabou por ser concentrada toda a comunicação focada nos corredores turísticos e abertura de fronteiras para esses fins (ou seja, evitando os habituais períodos de quarentena no regresso dos turistas a casa).

No Reino Unido, com o aproximar de um fim de semana fulcral para a marcação de férias, verifica-se a libertação “cirúrgica” da informação de que corredores aéreos livres de restrições para fins turísticos iam ser abertos para Espanha, Itália e Grécia, mas não para Portugal! Primeiro, na quinta, no Telegraph; depois na sexta, no Guardian e, no sábado, com direito ao contraditório, na BBC. Tudo isto numa altura que que só estava anunciada a publicitação desse novo sistema de “semáforos” para o início da semana seguinte.

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No fim de semana a corrida às marcações foi generalizada para grande alívio dos operadores turísticos e, claro, dos britânicos que ansiavam por ter sol e sair de um país que nessa mesma semana viu declarado um estado de emergência numa zona de praias invadidas por uma multidão incontrolável. E, obviamente, Portugal ficou de fora pois ninguém marca férias, já de si de uma forma atrasada, para um país onde não se sabe quando será levantada a restrição de viajar.

Ao mesmo tempo, no país vizinho, era o El Pais, normalmente visto como um porta-voz importante de Espanha, a fazer chamada de primeira página com a notícia de que Portugal tinha confinado 3 milhões de portugueses em Lisboa. E quando se retrata, a notícia já tinha saído em todo o lado!

Este domingo, a imprensa britânica começa a dar uma visão diferente do nosso país, como aconteceu com a Sky News ao ouvir o presidente do Turismo de Portugal e a correspondente em Lisboa do Sunday Times, mas só pelo facto de o fazer, dá um sinal de que a dúvida se mantém.

No mesmo dia, ontem, a ministra do Interior britânico declarava que o governo seria muito exigente ao obrigar a serem seguidas de forma estrita as diretivas emitidas face à epidemia da Covid-19. Pudera, no mesmo dia (aquele em que escrevo este artigo) saíam a público os novos resultados das sondagens do YouGov que apresentavam pela sétima semana com valores negativos a avaliação sobre a forma como o governo estava a lidar com a crise pandémica, assim como nas áreas de minimização de mortes, de regras de confinamento, de testes e despistagem e de distribuição de PPE’s.

Temos em Portugal, como na generalidade dos países em todo o mundo, uma situação difícil, inesperada, com o frequente ressurgimento de novos casos, quando se diminuem as medidas de confinamento e de restrição na mobilidade. Todos sabemos hoje que, para a economia poder continuar a desenvolver-se, as empresas funcionarem, a procura de bens e serviços aumentar, temos de estar sujeitos a estes riscos. Sabemos também que, neste quadro, haverá boas, menos boas, ou más opções das autoridades e dos países.

Mas não é disso que se trata aqui e não tenhamos ilusões: o que está a acontecer é uma dura guerra comercial, em que enfrentamos concorrentes poderosos, onde o vale tudo se pode instalar de um momento para o outro, onde a livre concorrência não existe, o valor e o mérito ou excelência pouco importam, pois são os países que mandam nas suas fronteiras e determinam regras de confinamento e de quarentena, já que são as autoridades nacionais quem decide. Temos de o perceber, e defender o nosso país. Da forma que o consigamos, nem quem seja simplesmente por o começar a perceber.

De resto, já sabemos como tudo formalmente irá acabar: fotografia conjunta dos chefes de estado e do governos dos dois países ibéricos no próximo dia 1 de Julho, uma inclusão daqui a pouco tempo de Portugal na lista dos países onde os britânicos se podem deslocar (há que permitir a viagem dos fãs de futebol britânicos a Lisboa para a fase final da Champions League, para contentamento deles!), uma declaração conjunta dos governos dos dois países recordando a mais velha aliança do mundo.

De resto, e isso é o que importa, estão-nos a roubar os clientes! Vamos a eles?

Portugal, 28 de Junho de 2020