“O meu filho, conheço-o eu!” é quase um “slogan de mãe”. Tem qualquer coisa de “please, do not disturb” que não é simpático para o pai. Mas, estranhamente, parece ser daquelas expressões que, apesar do seu quê de sexista, acaba por ser aceite pelo pai e pela mãe. Porquê?…

Ao longo de toda a minha vida, já deparei com muitas mães que conheciam mal os seus filhos. E nem mesmo essas deixavam de reclamar, em várias ocasiões, o protagonismo com que o amor de mãe se traduz no “grito”: “O meu filho, conheço-o eu!”. Mas nunca vi um único homem tomar a ousadia de se “chegar à frente” e, mesmo na ausência da mãe, reclamar, com a mesma assertividade, nada de idêntico. Não é que eles não se achem capazes disso. Mas a capacidade de um homem se aventurar para “fora de pé” e tomar a dianteira – reclamando conhecer um filho melhor que a mãe – é, praticamente, zero. E isso é engraçado. Sendo tantos homens tão “guerreiros”, tão intuitivos e tão sensatos, o que é que os leva a “encolherem-se” e, diante de uma afirmação (como essa) de poder duma mãe, nem sequer se arriscarem com um simples: “também eu”? E tudo isto levou-me a perguntar o que está a acontecer ao papel do pai. O que leva o pai a nem sequer reclamar, diante deste “chega para lá”? Porque, é verdade, há muitas mães que conhecem os seus filhos melhor do que mais ninguém. Mas fazer disto uma “regra” só nos pode levar a presumir que: ou é mesmo assim que acontece com todas as mães, e não se discute; ou o pai, mesmo magoado com uma afirmação tão cheia de arestas como essa, entende que contraditar a mãe será “comprar uma guerra” e, para não acabar num “cabo de trabalhos”, cala-se. Será que o pai, como se repete, deixou de “mandar” e que, em função dessa aparente transformação da “Lei do pai”, as crianças crescem, hoje, muito mais sem “Lei”?

É verdade que o mundo sempre foi machista e matriarcal. E que, agora, finalmente, começa a ser menos sexista. É verdade que o pai vai, hoje, mais vezes ao pediatra, tira mais licenças parentais e está mais presente e é mais participativo nos cuidados e na educação dum filho. Mas será que o papel do pai se tornou muito diferente daquilo que era? É verdade que o pai ausente ou o pai autoritário, de há cinquenta anos, tem vivido tantas transformações que o pai que reclama os mesmo direitos em relação à guarda e às responsabilidades parentais é, de facto, muito distinto. Mas será o pai de hoje tão, “estruturalmente”, diferente?

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