As últimas sondagens conhecidas, relativamente às intenções de voto para as próximas legislativas, não apresentam grandes novidades. O voto menos polarizado no centro, os partidos mais extremistas a crescer e a crença no sistema a baixar.

A grande novidade talvez seja não acharmos uma novidade o facto de o CDS se vir a tornar num partido residual, com 1,1% das intenções de voto. Isto obriga-nos a uma reflexão. O que leva um partido, fundador do regime e presente em diversos governos nestes 46 anos de democracia, à quase inevitável ausência parlamentar na próxima legislatura?

Este problema, como tantos outros, é tão antigo como a história do partido. O facto de ter sido fundado como o único partido assumidamente de direita, fez com que o CDS se visse obrigado a englobar várias correntes ideológicas, sendo a democracia-cristã, o conservadorismo e o liberalismo os mais conhecidos e aqueles que sempre foram assumidos como parte da matriz do partido. Além disso, o CDS sempre beneficiou do facto de ser o único partido sem pudor de ser de direita e, como tal, acabava por receber alguns votos de protesto, agregando todos aqueles que se sentiam à direita do PSD, espectro esse que variava conforme a liderança social-democrata. Daí se explicam as grandes flutuações de votação no partido, em função do famoso “voto útil”, que lhe garantia mais ou menos poder eleitoral.

O facto de o CDS não ser fundado numa ideologia rígida, tornou-se numa grande vantagem eleitoral na altura de agregar todo o tipo de eleitores, mas, com o tempo, essa característica viria a tornar-se também no seu maior inimigo. A liderança de Assunção Cristas foi, talvez, a menos politizada no sentido de não ter uma ideologia fortemente marcada e isso, juntamente com a fragmentação da direita portuguesa, levou a um afastamento de uma parte do seu eleitorado, quer para o Chega, quer para a Iniciativa Liberal. O resultado das ultimas eleições mostrou que os eleitores já não confiavam nos partidos do sistema, dando-se uma fragmentação do eleitorado, principalmente à direita (à esquerda, o mesmo fenómeno foi acontecendo primeiro com o BE e, mais tarde, com o PAN e o Livre).

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A eleição do sucessor de Assunção Cristas era vista como algo vital, uma vez que a resposta dada nesta crise eleitoral seria decisiva para o próximo ciclo político alargado.

Francisco Rodrigues dos Santos apresentou-se como o candidato da ruptura, colando-se mais à direita do partido e tentando cortar com os anos de Cristas. Venceu, com mérito, mas a sua liderança tem sido posta à prova uma e outra vez, em parte pelo protagonismo crescente de André Ventura, mas também pelo vazio em que se transformou o CDS.

Ao tentar aproveitar a onda criada por André Ventura, Francisco Rodrigues dos Santos colou-se ao seu discurso populista e destruiu anos de integridade criada junto dos eleitores, que viam no CDS um partido fiável e sério.

Enveredando por um conservadorismo bacoco, o líder centrista optou por tentar cativar um eleitorado mais à direita, não tendo a visão estratégica de perceber que uma viragem do PSD ao centro iria deixar ao seu dispor uma grande fatia do centro-direita e da direita moderada, que neste momento se encontram órfãs de opções.

É em momentos como este que se definem os percursos. Francisco Rodrigues dos Santos terá de definir se quer levar o seu partido a um resultado eleitoral que garanta a sobrevivência e a relevância futura do CDS, abdicando da sua marca pessoal, ou se quer vincar o seu caminho, sabendo que dificilmente os eleitores votarão numa cópia polida, quando têm, ao lado, o original a fazer mais barulho.