Ao longo deste ano de pandemia, com a experiência obtida em Macau, reconhecida pela própria OMS como modelo no controlo da Covid-19, tentei em dezenas de entrevistas, através de diferentes meios de comunicação social, transmitir os meus conhecimentos em relação ao que foi feito naquela região para atingir estes resultados fantásticos no combate à pandemia.

Como médico, independentemente de ser pediatra, estive dentro das medidas sanitárias, na forma como foram transmitidas com sucesso aos cidadãos e o que a população fez para conseguir, em comunhão com o governo, controlar a propagação do vírus.

O desprezo com que muitos portugueses olham para esta pandemia, ignorando os conselhos em relação às medidas sanitárias, só mostra que parte da população ainda não acredita que este vírus é agressivo e mortal. Ainda acreditam que a Covid-19 é parecida com a gripe e que todo este aparato criado na sociedade é excessivo e desnecessário.

Quando alguém é afectado pelo vírus, e mesmo tendo uma boa evolução clínica, pode a curto e médio prazo sofrer as consequências desta infecção. Isto não acontece com a vulgar gripe. Estudos recentes apontam para 60% de sequelas neurológicas e vasculares em doentes infetados por Covid-19, podendo atingir até pessoas que estiveram assintomáticas.

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Após os primeiros dias deste falso confinamento, notamos o crónico incumprimento de cidadãos e a procura constante das 52 excepções, que os nossos governantes conseguiram inventar neste novo confinamento, para poderem continuar a circular na via pública.

O número de casos não irá baixar com este modelo. Pelo contrário! A segunda vaga mal gerida, a ausência de medidas sanitárias no Natal, as medidas leves no Ano Novo, o atraso do SNS em pedir a colaboração dos hospitais privados e a falta de previsão a curto prazo da terceira vaga, que iria surgir a par da campanha para as eleições presidenciais, são responsáveis pela situação atual em que estamos a viver.

E a estes motivos descritos anteriormente, temos de adicionar os prevaricadores habituais e insensíveis quanto à possibilidade de serem responsáveis pela morte de um seu concidadão, incluindo os seus próprios familiares.

Ao Governo e à Direção Geral de Saúde peço que meditem antes de decidir e tenham a coragem de suspender as numerosas excepções que inventaram. Neste período não podemos agradar a ninguém ou a grupos. Apenas temos de tomar decisões, mesmo as mais impopulares.

Ao Senhor Presidente de República queria dizer o seguinte: não faça testes quase diários! Cria ansiedade desnecessária a um Chefe de Estado que tem como prioridade, neste momento, comandar um país em plena calamidade de saúde pública.

As pessoas que estão à frente do país, como o Presidente de República, o Primeiro-Ministro e os ministros de diversos gabinetes e o Presidente de Assembleia da República devem fazer parte do grupo prioritário. É uma orientação sensata para poderem estar focados na resolução dos problemas do país,  já em estado crítico. Ninguém lhes irá levar a mal! É uma questão de lógica e não de privilégio.

Não adiem estas e outras decisões para daqui a alguns dias. As decisões têm de ser tomadas de imediato. Quanto maior for o número de pessoas envolvidas numa decisão, maior será a possibilidade de poderem errar. Os excessivos pontos de vista vindos de diversos quadrantes científicos nem sempre são sinónimo de uma decisão final sensata. As grandes decisões são feitas com poucas pessoas de confiança. Não podemos esquecer que em Portugal morrem 9 pessoas por Covid-19 a cada hora e que mais de 600 são infectadas. Estamos a correr contra o tempo e se anteciparmos nas decisões, ganhamos vidas!