O já tristemente célebre abaixo-assinado/manifesto/carta-aberta/etc. de meia dúzia de pessoas (daquelas que têm acesso aos jornais) de direita (atenção! Alerta irónico) provocou a reacção – justa – de quem é, de facto, de direita.

Aqui, no Observador, foram publicados uma série de textos com títulos para todos os gostos, mas que destaco: Direita Frágil (não sei ser era de fragilidade se refª ao Frágil), Direita Caviar, Carta a um Amigo da “direita civilizada”, Perguntas com importância e a Direita do bem e dos bovinos, entre outros. Eu também pensei escrever um, ao qual daria o título de Direita Lux (e sim, com referência à discoteca com o mesmo nome).

Mas, e uma vez que tudo, ou quase tudo, já foi escrito à conta daquele infeliz exercício de escrita, resolvi pegar na expressão que ouvi a um amigo quando começou o bate-boca entre alguns dos subscritores (por acaso, só por acaso, militantes do CDS) e quem os criticou. Dizia esse amigo:  “Lá se foi o 5.7”. E é verdade. Se nos dermos ao trabalho de verificar as assinaturas do manifesto impresso no jornal O Público, constata-se que muitos também o foram do agora defunto 5.7.

Na carta aberta (?) publicada no agora esquerdista Público, a facção liberal, caviar, frágil e “luxoriana” do 5.7 soltou as asas do pensamento e, julgando que uma onda se criaria atrás deles, lá escreveu umas vacuidades. Tiveram azar, ninguém foi atrás e a onda não aconteceu. Corrijo, houve quem lhes tenha dado os parabéns: a esquerda caviar, frágil e “luxoriana”.

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A lápide desse Movimento (?), que não chegou a sair do berçário, podia dizer: “Aqui jaz o 5.7, assassinado numa noite de Novembro por membros que o ajudaram a nascer.” Um infanticídio, portanto.

Como não subscrevi nem uma coisa nem outra, estou à vontade para discorrer sobre o assunto.

Recordemos alguns factos:

  1. Uma das ideias do Movimento (?) 5.7 era a de encontrar um mínimo denominador comum para as “várias direitas”;
  2. Como pontapé de saída, o 5.7 publicou uma colectânea de textos de quem pensa a direita em Portugal.

Assim: por um lado, uma tarefa ciclópica que não obteve o apoio declarado dos líderes dos principais partidos de direita, por outro, uma amálgama de pensadores que juntava no mesmo livro saudosistas, liberais económicos, monárquicos, democratas cristãos, ateus, Opus Dei e ultra liberais dos costumes, além de gente – mesmo – muito boa. Estava na cara o que ia dar este autêntico albergue espanhol. É que nem o “chão comum” do Lux estes escribas pisavam. Devo realçar que, embora não tenha dado para nenhum destes peditórios, entendo que faz falta um – verdadeiro – think tank da direita em Portugal, que não se queira substituir às lideranças partidárias, mas produzir pensamento, apontar caminhos. Fica para a próxima.

Por fim, gostava de entender como membros da Casa Civil do Presidente da República se dão ao luxo de subscreverem manifestos (?) em jornais. Claro que virão logo os defensores de que cada um tem direito à sua opinião. Pois claro que sim, mas esse direito não é absoluto de acordo com as circunstâncias. Vejamos: será de bom tom que quem trabalha para a Presidência da República Portuguesa se dê ao desplante de criticar um Presidente – o dos EUA – democraticamente eleito e democraticamente arredado? Ou de criar um anátema sobre um partido – o Chega – que foi autorizado e legalizado com a chancela do nosso Tribunal Constitucional? Não deveriam ter-se demitido em primeiro lugar e depois, então, assinar aquela coisa? Responsabilidade institucional é como se chama (a menos que tenham avisado o Sr. Presidente e o mesmo tenha dado o seu ok, o que não acredito…).

Concluo com o seguinte: os responsáveis materiais da morte do 5.7 sabemos quem são. Os da responsabilidade moral são aqueles que convidaram os seus próprios verdugos para a festa do seu nascimento (que deve ter sido no Lux).