“A tragédia, o drama, o horror”
(célebre frase de Artur Albarran)

A “Árvore do Ano” é um concurso levado a cabo pela UNAC – União da Floresta Mediterrânica, com o apoio do governo português e que habilita a árvore portuguesa vencedora a concorrer à votação para a “Árvore Europeia do Ano” (organizado pela Environmental Partnership Association e inspirado num popular concurso da República Checa) que visa destacar a importância das árvores antigas na sua história e relações com as pessoas.

As árvores são nomeadas e após a validação das candidaturas pelo júri, as dez finalistas vão, acompanhadas pela sua história exclusiva, a votos. O voto faz-se por via eletrónica, e cada pessoa pode votar apenas uma vez, decorrendo por mais de um mês. E este ano, o vencedor foi… o Eucalipto de Contige no concelho de Sátão (distrito de Viseu)!

Com 144 anos, a altura da ponte D. Luís, no Porto, e um perímetro de tronco que necessita de 8 pessoas para a abraçar, esta é a maior árvore classificada de interesse público do país! Na margem da antiga EN 229, no cruzamento da estrada municipal que liga Viseu ao centro da aldeia, foi mesmo a presença do imponente eucalipto que motivou o desenho da estrada, que o contorna, sendo uma referência local, daí a sua nomeação por parte da Junta de Freguesia.

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Todavia, o resultado do concurso, cujo eleito de 2018, ano da primeira participação nacional, o Sobreiro Assobiador, de Águas de Moura, chegou mesmo a vencer o título europeu, está a gerar imensa revolta em muitos ambientalistas. Pelas redes vai-se lendo: “como é possível?”, “portuguesa?”, “tristeza”, “vergonha”, “votação comprada”, etc., etc…

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Mas o concurso é restrito a árvores autóctones? Não, o concurso, como dito acima, pretende realçar árvores com características histórico-culturais. Por exemplo entre os finalistas deste ano, estava igualmente uma Árvore-do-fogo, também uma espécie australiana, localizado em Mafra; Há dois anos já havia sido uma espécie não autóctone: o Plátano do Rossio, em Portalegre. E a nível europeu, o vencedor de 2013 foi um híbrido Platanus x acerifolia (um cruzamento de P. orientalis e P. occidentalis, americano, provavelmente produzida em Espanha no século XVII).

Mas desta vez é diferente. E porquê? Porque é um Eucalipto…

E o Eucalipto tem o condão de despertar amores (da bênção de fertilidade de Jaime Lima no princípio do séc. XX ao “Petróleo Verde” já em finais do século passado) e… ódios. De desertos verdes a fontes secas, passando por culpado pelo êxodo rural ou pelos incêndios de verão, muito, e muitas vezes injustificadamente, se tem dito para denegrir a espécie, como se uma árvore pudesse ser a culpada pelos problemas que afetam a nossa floresta e, pior, afastando o foco da realidade, logo do caminho para resolver esses mesmos problemas.

Mais, confunde-se a árvore com a floresta, porque mesmo que se relacionassem com os problemas da nossa floresta, seriam as plantações industriais de Eucaliptos, não o Eucalipto de Contige ou por exemplo o Eucalipto de Vale de Canas, Coimbra, que com os seus 73 metros é não só a árvore mais alta de Portugal, como de toda a Europa! Como não apreciar a monumentalidade de tais exemplares, curiosamente numa espécie que até começou a ser plantada por cá como… ornamental? O ódio cega.

Originalmente conotado com a extrema direita (como se a esquerda não tivesse racismo), o ódio da extrema esquerda ao eucalipto (e bem a tudo o que seja produtivo, dos olivais aos abacates) configura igualmente um fito-racismo de características comuns: ativismo, totalitarismo, segregação (“preservação da natureza e da ordem natural” do manifesto do assassino de Búfalo). A diferença está em que uns culpam migrantes, outros culpam árvores. De resto, como li num comentário, se disséssemos o que se diz do Eucalipto – não é de cá, afeta os nacionais, etc. – de uma pessoa, isso era o quê? Os extremos tocam-se, até no desrespeito pelas escolhas de terceiros (democracia, lembram-se?).

Porque ganhou o Eucalipto? Porque mais gente votou nele!