Está em debate no país, o estatuto autonómico do Arquipélago dos Bijagós, há muito uma previsão constitucional, o que é tanto de louvar como de saudar, por poder significar um instrumento de redenção para a coesão nacional. Mas, sobretudo, por ser uma divisa que faltava para lançar o desenvolvimento definitivo do país no seu todo, na medida em que o seu sucesso poderá servir de antídoto para o resto do território nacional. Todavia, há que reconhecer que existem e existirão sempre várias dissertações em confronto no que tange, não só à oportunidade do expediente em geral, mas, sobretudo, à sua auto-suficiência económica.

Contudo, limitar-me-ei a destacar duas:

  1. A dos defensores de uma autonomia já, na qual eu me revejo, que defende a autonomia insular fundada na percepção real da completa ausência do Estado, e, consequentemente, a sua demissão de todas as suas funções políticas, sócio-económicas, educativas, de eleição de saúde para todos, em suma, a sua demissão da função de criação de condições de bem-estar para as populações da região;
  2. A dos negacionistas, aquela que defende um não ao estatuto autonómico insular, tendo por premissas, entre várias, a debilidade e carência do Estado em toda linha económica. Ou seja, o Estado é ele mesmo insuficiente, deficitário e, por isso, não autónomo nos seus meios e nos seus fins. E não o sendo, argumentam, como pode criar e permitir uma qualquer autonomia ao arquipélago dos Bijagós?

Não querendo aprofundar as considerações sobre as causas destes, (que aliás, estão ultrapassadas e descontextualizadas), também não pretendo entrar em confronto directo com os seus defensores, até pelo respeito a uma das alavancas do Estado democrático – a liberdade de opinião, por um lado, e porque estamos a falar de um debate, que tendo sido patrocinado pela Assembleia Nacional Popular, com amplo consenso político-partidário – coisa rara nos dias de hoje – tem merecido apoio justificado de toda a sociedade civil guineense, o que é de realçar e de registar, por outro.

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Por isso, para nós, quaisquer que sejam os contornos do estatuto autonómico em debate, quaisquer que sejam as linhas com que venha a ser cosido, uma coisa é certa: nós, insulares, estaremos sempre melhores do que antes, porque melhores servidos estaremos, e, por conseguinte, conheceremos outros patamares de qualidade e do bem-estar em geral do que antes. Resumindo, em poucas palavras: pior do que estamos e sempre estivemos será impossível.

Porque até agora, aos olhos dos nossos políticos e até de uma boa franja da população do continente, nós temos sido “ELES”, mas com o estatuto autonómico insular, passaremos a ser “Nós”. E assim seremos nós, em primeira mão, a tomar conta de nós e a assumir os nossos destinos. Até porque não faltam casos de sucesso nos  quatro cantos do mundo que nos enchem de estímulo e de determinação. Por isso, não seremos e nem queremos ser a excepção.

O meu problema, ou de quase a totalidade das populações da região, é outro: o de saber se teremos políticos à altura para protagonizar esse importante projecto histórico; mais, se teremos cidadãos ainda não contagiados pelo surto viral da corrupção, da incompetência, do facilitismo, da preguiça, da ausência de carácter e do velho hábito de delapidar os recursos do erário publico.

Porque, para mim, se for para prosseguir com essas práticas, aliás já enraizadas na nossa sociedade e que têm prejudicado e impedido o desenvolvimento do país, então, não faz sentido falar nem defender a criação de um estatuto autonómico para a nossa região, porque não passaríamos do velho ditado português: “Vira o disco e toca o mesmo.” Mas, profundamente, quero crer que não será o caso. O amor pelo arquipélago, pelas suas populações, falará bem mais alto e o orgulho será incomensurável.

Estou em absoluta sintonia com Francisco Conduto de Pina, Presidente da Comissão Eventual para o Estudo e Elaboração de um Projecto para a Autonomia Administrativa da Zona Insular, da Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau.