Aquilo a que temos vindo a assistir nos últimos anos em termos de previsões de todas as casas de consultoria e mesmo do World Economic Forum é ao decréscimo acentuado das necessidades futuras dos skills do tipo físico básico e ao mesmo tempo uma contração significativa também nas necessidades de skills cognitivos elementares. Por outro lado, assistimos a uma previsão das necessidades de skills ao nível cognitivo de tipo superior e a um aumento considerável de skills emocionais e sociais a par com um aumento bastante apreciável sob o ponto de vista das necessidades de skills tecnológicos.

Dito isto parecia ser evidente que o futuro do trabalho – sobretudo trazido pela pandemia – estaria cada vez mais ligado a uma conexão ou interconexão de experiências híbridas e que os locais de trabalho estariam (já estão) rapidamente envolvidos com as necessidades e expectativas dos colaboradores no sentido de lhes dar conectividade remota e, com isso, também acréscimos de produtividade em paralelo com a procura da sua retenção, especialmente os de maior talento.

Se é certo que a pandemia já tinha feito emergir este paradoxo, ou seja, se por um lado são necessárias competências emocionais e sociais mais fortes e também mais resiliência, por outro lado o trabalho remoto (e mesmo híbrido) vem retirar espaço a que isso possa acontecer, dando primazia ao desenvolvimento de competências meramente tecnológicas e, eventualmente, a competências do tipo cognitivo mais elevado mas estimulando o isolamento.

Infelizmente e para mal de todos, principalmente dos inocentes ucranianos, a eclosão de uma guerra na Europa vem ainda colocar mais em causa esta dicotomia entre construção de competências tecnológicas e de argumentos do tipo cognitivo mais elevado, por um lado, e a necessidade de desenvolvimento de competências sociais, emocionais e de resiliência, por outro.

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Assim sendo, em contextos de guerra e de assalto à vida humana nos seus princípios fundamentais, parece ainda mais difícil poder desenvolver as competências mais brandas, ditas sociais, emocionais e de resiliência em ambientes remotos, porquanto o homem, um ser essencialmente social, não é capaz de as construir senão em sociedade e em termos de convivência próxima de outros. E o trabalho é onde despende mais horas por dia e onde mais vai buscar, para além da dignidade, o sentido gregário e de pertença.

Se assim é, o grande paradoxo que já tinha emergido da pandemia vem apenas aprofundar-se com a eclosão de uma guerra na Europa. Porquê? Porque numa situação de guerra, de devastação, de vida humana em perigo, numa posição de grande fragilidade social e humana e numa situação de austeridade previsível o homem só subsiste em condições de elevada sociabilidade e, para isso, o trabalho remoto (e mesmo híbrido) em nada contribui.

Serão mais que nunca necessárias as competências emocionais, sociais e a resiliência humana, mais ainda pela exposição que todos temos a cenários constantes de violação dos fundamentais da vida humana. Dito isto, e com a guerra a aprofundar a necessidade de reagrupar, agregar e convergir para cenários onde os colaboradores estejam em conjunto e beneficiem em pleno do sentido de pertença, a pergunta que emerge é como gerir, em simultâneo, os isolamentos trazidos pelo remoto e híbrido com as fragilidades várias que se vão acentuando pela privação das necessidades de socialização e de agregação permanente em espaços comuns? Qualquer que seja a solução, não podemos esquecer nunca que são a sociedade e a socialização que salvam o homem e não o contrário.