Ao anunciar, com pompa e circunstância esta “iniciativa de paz”, o Presidente russo Vladimir Putin justificou-a: “o trabalho efectivo das nossas tropas criou as condições para o início do processo de paz… Acredito que a tarefa pedida ao ministro da Defesa e às Forças Armadas russas foi, no geral, cumprida. Com a participação do Exército russo, as forças armadas sírias e as forças patrióticas sírias conseguiram progressos irreversíveis na guerra contra o terrorismo internacional, tendo-lhes cabido quase sempre a iniciativa”.

Porém, se nos lembrarmos de declarações anteriores de dirigentes russos, vemos que não eram esses os objectivos proclamados. Em Fevereiro deste ano, Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, declarou: “Os ataques aéreos russos não terminarão até que vençamos realmente as organizações terroristas: DAESH, Jebhat-na-Nursu” e outras semelhantes. Não vejo fundamentos para suspender esses ataques”. Ao que se sabe, esses grupos terroristas continuam a controlar grande parte do território sírio.

O facto de o anúncio ter sido feito na véspera do início das conversações entre a oposição moderada síria e a ONU em Genebra pode parecer uma forma do Kremlin ir ao encontro de uma das principais reivindicações dos opositores de Bashar Assad, que exigia o fim dos bombardeamentos russos e a retirada dos militares da Síria.

Porém, é de sublinhar que a retirada das tropas russas é parcial, continuando Moscovo a controlar a base aérea de Hemeimiem, na província costeira síria de Latakia, e as instalações russas no porto de Tartus.

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Por isso, a qualquer momento, as tropas russas podem regressar. “Ficará um contingente necessário para manter as bases militares na Síria. É preciso prever todas as possibilidades caso precisemos de voltar à Síria”, comentou Victor Ozerov, Presidente do Comité do Conselho da Federação (Câmara Alta do Parlamento Russo) para a Defesa e a Segurança.

Isto põe em causa as declarações de Putin de que “as tropas sírias e forças patrióticas na Síria conseguiram de forma radical mudar a situação na luta contra o terrorismo internacional e chamar a si a iniciativa em todas as direcções”.

Pelos vistos, Vladimir Putin considerou ter conseguido o objectivo de manter a influência russa na Síria ao controlar parte da costa marítima do país. Na semana passada, Moscovo recusava terminante a ideia de federalização da Síria, mas, na segunda-feira, Serguei Lavrov declarou que a Rússia aceita esse cenário se “essa for a vontade do povo sírio”.