Talvez as estratégias políticas sejam como os melões: só no fim, perante os resultados, é possível ter a certeza de que estavam certas ou não. No caso da estratégia de Rui Rio, esse juízo deveria naturalmente ocorrer nas legislativas de 2019. Mas neste fim de semana, o presidente do PSD fez constar que não pensa nas eleições de 2019. O seu objectivo seria progredir nas autárquicas de 2021, para finalmente disputar as legislativas de 2023. Vai portanto a história  esperar por 2023 para o julgar?

É uma opção extraordinária, porque não lembra uma estratégia de oposição, mas de um príncipe herdeiro cujo plano pouco mais fosse do que esperar que o velho rei morra. Rui Rio não está a preparar-se para competir com António Costa, mas para lhe suceder ao fim de duas legislaturas.

Dir-me-ão: é realismo. Não é, porque a direcção do PSD não está a desistir de 2019 apenas porque a vitória seja difícil, mas porque parece preferir protagonizar apenas uma mudança de turno da equipa governativa, em vez de lutar por uma ruptura de políticas. É uma escolha que tem, desde logo, este problema: vai contra a dinâmica política que, entre outras coisas, justificou a actual maioria social-comunista em 2015. Rui Rio diz que acabou com a “crispação”. Mas não acabou certamente com a noção de que a política portuguesa assenta agora numa bipolarização entre dois blocos, um de esquerda e outro de direita. É isso que, crispados ou não, todos os outros partidos assumem e proclamam, a começar pelo PS e incluindo o CDS. O governo, por exemplo, não se tem cansado de insistir na incompatibilidade de visões nos temas fundamentais. Em tal contexto, os dirigentes do PSD correm o risco de ver a sua aproximação a Costa parecer fútil, ao mesmo tempo que deixam o CDS açambarcar o confronto com a esquerda.

Ou seja, com esta estratégia, Rui Rio terá muito provavelmente de fazer passar o PSD por várias derrotas e irrelevâncias até chegar a 2023. Como espera manter-se à frente do partido? Com todo o respeito, não parece dispor de especial carisma, nem, pelo que mostraram as directas ou o congresso, de uma popularidade esmagadora. A sua verdadeira estratégia, portanto, só pode ser uma: controlar o aparelho, fazer chantagem com as candidaturas e as carreiras, anular quem discorda, afastar quem critica, mostrar que é ele quem manda, contra tudo e contra todos. É por esse lado que faz sentido a imposição de um líder parlamentar que não foi votado pelos deputados, ou a ameaça de negociar com o governo à margem do parlamento, ou ainda a insistência em figuras com bagagens controversas — uma maneira de provar, como Caligula ao nomear um cavalo para o Senado, que pode tudo, e que não recuará perante polémicas, nem, mais adiante, perante más sondagens ou desilusões eleitorais.

Talvez a direcção do PSD calcule que, por mais que o partido desça em 2019, nunca comprometerá o estatuto de sucessor natural deste governo. De facto, há quarenta e três anos que PS e PSD trocam entre si os primeiros lugares. A distância em relação ao CDS parece grande. Mas foi igualmente grande em Lisboa, onde, em 2001, o CDS valia 23 mil votos e o PSD 131 mil. Hoje, na capital, o CDS tem 51 mil votos e o PSD 28 mil. E não, não precisam de me lembrar que foi um acidente e que não se pode generalizar. Porque depois do que temos visto na Europa, o que também não se pode é supor que a terra nunca se move. Por maior que seja a inércia ou o clubismo, nem sempre os eleitores suportam tudo. Quando um partido cria um vazio político, é frequentemente o primeiro a desaparecer nele.

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