A liderança de Rui Rio no PSD está a deixar muita gente perplexa. Já foi eleito líder dos sociais democratas há mais de três meses e ainda não começou a fazer oposição ao governo.  Aliás, desde a eleição de Rio, vive-se uma situação bizarra na política portuguesa. O maior partido da oposição, o PSD, é o que tem melhores relações com o governo. Os partidos que apoiam o PS na Assembleia da República são os que lideram a oposição ao executivo socialista.

A principal luta política de Rio é contra os seus adversários no interior do PSD. Tem sido assim desde que foi eleito líder do partido, contra os próximos de Passos Coelho e contra os que apoiaram Santana Lopes. Rui Rio não passou o primeiro teste de liderança: foi incapaz de unir o partido.  É evidente que o seu objectivo central não é chegar a São Bento em 2019 mas manter a liderança do PSD mesmo perdendo as eleições. É este o grande desafio politico de Rui Rio. E é nesse contexto que se deve entender o acordo de Rio com o PM sobre a regionalização (também tratada como “descentralização”) e a distribuição dos fundos europeus.

A estratégia de Rio para se manter na liderança do PSD exige o reforço do seu poder nas três maiores distritais do Norte, Aveiro, Braga e Porto. Foi aí que ganhou as eleições internas e é aí que tentará preservar o seu poder. Para isso, será importante reforçar as competências locais, com a “descentralização”, e distribuir mais dinheiro com os fundos europeus, disponibilizados pelo amigo António Costa.

Para reforçar a sua base de poder no Norte do país, Rio arrisca-se a transformar o PSD num partido regional. Tenho um enorme orgulho no norte de Portugal, gosto muito das suas gentes (sendo adepto do FC Porto, não poderia ser de outra maneira) e admiro muito o dinamismo económico das suas regiões. Aliás, gostava muito de ouvir o líder do PSD a defender as pequenas e médias empresas do Norte, a descida do IRC, e o apoio aos estímulos fiscais para as empresas exportadoras. Mas o “Norte” de Rui Rio não é a região que tanto beneficia a economia nacional. É uma base de poder politico e partidário.

A verdade é que Rui Rio ainda não conseguiu tornar-se num líder político nacional. Continua a ser um político regional. Veremos se conseguirá. Sá Carneiro constitui um excelente exemplo. Nunca deixou de ser um homem do Porto. No entanto, a liderança do PSD transformou-o num líder nacional. Rio ainda não deu esse salto. Por exemplo, ninguém sabe o que o líder do PSD, um candidato a PM, pensa sobre a União Europeia, a zona Euro, a NATO, a segurança europeia, as relações com os Estados Unidos e com a Rússia, o Médio Oriente, as relações com Angola e com Moçambique, as relações com o Brasil. Nada. Um vazio.

Voltando ao Norte, ainda não ouvi uma palavra de Rui Rio sobre o Brexit, talvez o maior desafio estratégico e económico para a Europa, incluindo Portugal, dos próximos anos. Portugal tem um balanço comercial positivo na relação com o Reino Unido. Grande parte das exportações portuguesas para o Reino Unido têm origem no norte de Portugal. Para muitas empresas, sobretudo no sector automóvel, o Brexit é um risco político elevado com consequências económicas muito negativas se as negociações não correrem bem. É esse Norte que deveria preocupar Rui Rio. Mas o líder do PSD apenas tem uma preocupação: ficar na liderança do PSD, independentemente do que acontecer em 2019, usando as distritais do “seu Norte”. Arrisca-se a transformar o PSD num partido regional. Uma espécie de Liga do Norte portuguesa.

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