Agora que se fala de retomar uma parcial normalidade da vida, preocupamo-nos todos com a realidade que vamos encontrar. No caso das universidades, trata-se de saber se vão, ou não, reabrir aulas presenciais, quais, em caso afirmativo, e quando. Se os exames deste semestre serão feitos a tempo e com que atraso abrirá o ano letivo próximo.
No entanto, duas coisas sabemos: dos planos para reduzir as propinas nacionais nas instituições públicas de ensino superior; e da hesitação em viver-se num país estrangeiro, longe da família. Da primeira, nada mais justo desde que devidamente compensado pelo Orçamento do Estado – mas o leitor perdoará, se for brindado com algum ceticismo académico face ao passado recente; da segunda, parece natural que o desconhecido associado ao mundo do novo coronavírus seja dominado pelo receio e, nessas circunstâncias, as reações naturais sejam as mais conservadoras.
Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, estas preocupações não são desassociadas. Ao internacionalizarem-se e receberem alunos de fora de Portugal e, inclusivamente, de fora da União Europeia, as nossas instituições dependem gradualmente menos do Orçamento do Estado. O receio de perdermos, ou de não sermos capazes de reter, com a crise da Covid-19, os bons alunos internacionais que estávamos a atrair pode ter consequências nefastas para a sustentabilidade do nosso sistema de ensino superior.
Neste contexto, o medo das Universidades fala em silêncio: é o medo de ter menos candidatos estrangeiros; de ter menos capacidade de os reter; de que, ao lecionarmos online, os alunos estrangeiros optem por instituições de outros países; e de que países emissores de alunos sofram os impactos da crise. A título de exemplo, o real Brasileiro desvalorizou em dois meses mais de 27%, dificultando o estudo no estrangeiro.
Mas, como diria o nosso Eça, nada dá tanta ideia da constância de carácter como a firmeza de caminhar. Para enfrentar estes receios, contrapomos as nossas vantagens, argumentos constante e sistematicamente usados nestes últimos anos.
As nossas universidades continuam a ter uma relação qualidade-preço favorável, face aos concorrentes internacionais, e Portugal oferece qualidade de vida, com bons níveis de segurança e relativo baixo custo de vida. Nada aqui mudou, mesmo que ainda tenhamos de ensinar virtualmente por algum tempo. As universidades melhores do que as nossas em ensino virtual também o são no presencial, e não vão passar a fazer descontos por ensinar online. Por isso, não há, verdadeiramente, o que temer.
Além disso, o volume de candidaturas estrangeiras, até agora, não baixou, em comparação com os anos passados. E há uma probabilidade razoável de reter os que foram aprovados, mesmo os de economias mais afetadas, se para estes houver uma política de bolsas em função do estado social e desempenho académico. A menos que optem por um gap year, os alunos vão ter de estudar em algum lugar. A experiência de viver todo o seu curso noutra cultura, se não for neste semestre, será no próximo – há esta esperança, apenas humana, de que a normalidade esteja ao virar da esquina. A reforçar esta perceção, a maioria das pessoas no Ensino Superior não constitui grupo de risco, pelo que as universidades serão das instituições com mais condições de retomarem gradualmente a sua normalidade.
Em tempos de pandemia, temos de voltar às lições das nossas avós: lavar as mãos regularmente, pôr sempre a mão à frente da boca e saber receber.