A partir do dia 1 de janeiro de 2020, o salário mínimo em Portugal vai subir 5,8% – €35 – e passar para os €635, tendo como meta os €750, em 2023. Esta foi uma das primeiras medidas anunciadas pelo novo Governo, que se afirmou comprometido com uma “estratégia mais transversal de valorização dos salários e rendimentos”. No final de novembro, soubemos que o executivo tem como indicadores de referência para o aumento dos salários no privado durante os próximos quatro anos valores entre 2,7% e 3,2%.

Não tenho dúvidas de que estas são boas notícias – para os colaboradores, que ficam mais motivados; para as famílias, que ganham qualidade de vida; e para o país, que, para crescer, precisa de melhores salários. No caso particular do salário mínimo, a notícia é ainda mais relevante pelo caminho que Portugal tem de percorrer para convergir com a União Europeia. Está abaixo da média (€792) e ainda a meio da tabela, sendo ultrapassado por países como Eslovénia (€760) e Espanha (€900), e ficando ligeiramente acima da Grécia (€586), Lituânia (€476) ou Estónia (€463).

Contudo, há uma questão basilar a ter em conta: para pagar mais, uma empresa deve assegurar que é mais produtiva, apostando na eficiência das operações, através do investimento na capacitação de trabalhadores, da melhoria do nível de serviço, da otimização de recursos, da aposta na qualidade e na inovação. Caso contrário, arrisca-se a perder competitividade.

Neste campo, importa fugir aos lugares-comuns e à demagogia. A chave para uma maior produtividade das empresas não é o desempenho de cada colaborador. As ineficiências individuais representam perdas marginais de produtividade. O ónus deve assentar sobre a organização – até porque Portugal está entre os países europeus com maior número de horas trabalhadas. Dados do Eurostat mostram que em 2018 foram 40,8 horas semanais, face a uma média europeia de 40,2 horas. Somos apenas ultrapassados pelo Reino Unido, Chipre, Polónia e Áustria, que trabalham até 42 horas.

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Significa que estamos a trabalhar muitas horas, mas com um baixo índice de produtividade. E melhor trabalho é diferente de mais trabalho. Por exemplo: em agosto, a título experimental, a Microsoft no Japão reduziu a semana laboral para quatro dias, tendo aumentado a sua produtividade em 40%. Isto é reflexo de uma melhoria no modelo de gestão da empresa – e de um compromisso do topo até à base.

Temos no têxtil outro bom exemplo. Depois de anos a ser um setor competitivo por ter mão-de-obra de qualidade a baixo preço, com a emergência da produção de países como o Vietname ou o Paquistão, tornou-se “caro”. Apenas evoluindo e inovando, desenvolvendo produtos de valor acrescentado – os têxteis técnicos – foi possível garantir que têm lugar no mercado e são capazes de competir globalmente.

O aumento do salário mínimo nacional é uma excelente oportunidade para os gestores das empresas – mesmo as que não vão ser impactadas pela medida – refletirem sobre a produtividade das suas estruturas, assumindo a responsabilidade que têm neste assunto e colocando o tema na sua agenda – a tinta permanente.