É praticamente unânime a opinião de que o Estado terá um papel decisivo na mitigação dos efeitos da grave crise económica que a pandemia da Covid-19 está a gerar. O que não é tão unânime é a forma e os moldes como as linhas de apoio devem chegar às empresas.

Não há dúvidas de que há, hoje, cada vez mais empresas portuguesas cuja sobrevivência está posta em causa. O Estado tem de agir antes de essa situação se tornar irremediável para muitas delas. Ou seja, o plano de apoio preparado pelo Governo tem de ser, antes de tudo, célere. E isso implica que o acesso seja pouco burocrático e simples.

Nesta perspectiva, a decisão do governo garantindo linhas de crédito para serem distribuídas às empresas de uma forma geral, foi uma boa medida que só pecou por estar a demorar excessivamente. Mas agora torna-se fundamental começar a fazer uma avaliação criteriosa quando se abrem os cofres do Estado. Porque, se por um lado, a sobrevivência da Economia nacional a curto-prazo deve ser a missão fundamental à volta da qual toda a classe política e empresarial devem unir-se, por outro, a cura para este problema não pode colocar em causa a sustentabilidade do país no médio/longo-prazo.

Estamos todos convencidos de que os apoios agora disponibilizados não serão suficientes para as necessidades das empresas e estamos também conscientes de que haverá muitos casos em que nem com estes apoios será possível salvar as empresas dos efeitos provocados por esta pandemia.

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Por isso, agora é o tempo de fazer uma primeira avaliação sobre os resultados destas primeiras ajudas, determinar aquilo que é importante e possível salvar e dirigir para aí todos os nossos recursos que são exíguos e que se não forem bem dirigidos poderão ser totalmente ineficientes.

É uma tarefa difícil e complexa, tal como são os tempos em que vivemos. Mas esta missão nunca será completada com sucesso se todo o planeamento não for executado tendo como base um critério rigoroso. Não vale a pena aumentar linhas de apoio sem acompanhar a eficácia das mesmas.

O endividamento do Estado não pode ser feito sem este tipo de critério e rigor. Todos sabemos quanto nos custou recuperar de um endividamento de 132% do PIB e neste momento nem sequer podemos contar com a enorme capacidade de internacionalização das empresas portuguesas e contributo para as exportações com a economia mundial à beira de uma recessão sem precedentes.

Contudo, é fundamental, no quadro das ajudas do Estado, activar, urgentemente, as garantias às seguradoras de crédito de forma a assegurar a continuidade das exportações, sob pena de perdermos mercados. Também aqui a celeridade é essencial e o sucesso desta medida será um factor de maior importância para a recuperação da economia.

Por muito difícil e delicada que seja essa decisão, há que saber escolher e avaliar o risco do crédito concedido. Os negócios apoiados terão de obedecer a critérios cuidadosamente delineados, para que o financiamento seja eficazmente aplicado no curto, médio e longo prazo, salvaguardando assim o futuro da economia nacional.

Por fim, tudo isto só terá os resultados necessários se nos dispusermos imediatamente a ir trabalhar. Todos sabemos já que a pandemia apenas tem efeitos graves nas gerações mais idosas pelo que toda a população activa está fora de risco. Por isso vamos trabalhar para não permitir que Portugal volte a enfrentar tempos de grande dureza na vida dos seus cidadãos.

A equação que servir de base para o plano de salvação da economia nacional poderá ser difícil de construir. Mas nela têm de estar incluídas três premissas fundamentais: apoio financeiro com celeridade, critério e facilidade de acesso.