“Coronavírus pode ter consequências positivas…” expressou a nossa Ministra da Agricultura.

Existem alturas em que não podemos simplesmente dizer o que pensamos, e muito menos, se estivermos a exercer um cargo político como é o caso do cargo de Ministra da Agricultura do Estado Português.

A expressão da Ministra da Agricultura, Dra. Maria do Céu Albuquerque, acerca do coronavírus e das suas consequências positivas para as exportações nacionais, mostram falta de sensibilidade e cuidado por parte da nossa Ministra.

Caríssima Dra. Maria do Céu Albuquerque, deixe-me dizer-lhe desde já que qualquer crise, qualquer conflito, qualquer guerra, qualquer epidemia, traz sempre consequências positivas para alguém… No entanto não é de bom tom apregoar as mesmas, e muito menos na comunicação social.

Todos nós sabemos que em situações de acontecer uma epidemia, as indústrias farmacêuticas agradecem… Se houver uma guerra, os produtores de armas agradecem… Se houver fome, os produtores de bens alimentares agradecem… Mas, não quer dizer que isto deva ser dito diretamente e de um modo “frio”. Simplesmente não cai bem. Mostra desrespeito pelas vítimas, neste caso, das que já se encontram infetadas pelo coronavírus, e por aquelas que já faleceram devido ao mesmo.

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A profissão de político, é muitas vezes associada a interesses pessoais em prol do bem comum, por isso quem a exerce tem que ter muito cuidado no que exprime e nas repercussões dessas mesmas expressões. Pode muitas vezes entrar em conflito com princípios de respeito, e neste caso com o respeito pela vida humana. Estamos saturados de ver cada vez mais, casos de polícia e condenações de políticos, associadas a corrupção, troca de influências, etc. Estas situações negativas, provocam que dentro do sistema político, exista, hoje em dia, um cuidado redobrado nas decisões, nas relações, na forma de atuar e na forma de expressar por parte de quem cargos políticos exerce.

O coronavírus, como em todos casos, está a gerar um grau de fatalidade de vidas humanas já em número considerável, sendo que existe neste momento um grande investimento na procura do seu antídoto. Se pensarmos bem, não é só as exportações portuguesas de produtos alimentares que podem beneficiar com tal epidemia global. Existe a indústria do betão, que com a construção do famoso hospital em 10 dias na China levou a um investimento na área de elevado valor, e este é só um exemplo… Quantas máscaras de proteção facial, e quantos frascos de líquidos desinfetantes de mãos se venderam por todo o mundo, esgotando o stock em muitas farmácias inclusive? Sendo o coronavírus originado na carne consumida de alguns animais, é natural que a China neste momento eleve o volume das suas importações da mesma, para evitar propagar ainda mais a epidemia. Os antibióticos, os medicamentos que agora são cada vez mais necessários, fazem disparar as vendas da indústria farmacêutica.

Como podemos constatar neste último parágrafo, uma situação negativa gera sempre um efeito positivo para alguém, mas será correto mencioná-lo? Será de bom tom, num vírus aniquilador de vidas humanas, efetuar uma análise económica deste tipo? Esta análise de oportunidade é inevitável sem dúvida, mas não o podemos exprimir na comunicação social, de uma forma natural e fria!

É preciso saber estar, saber agir, saber falar, e mais importante o que falar e de que modo o efetuar.

Um político não é apenas um cargo! Um político eleito é um representante de quem votou nele, de acordo com o princípio da democracia, por isso, estes eleitos, têm cada vez mais de ter em atenção a sua conduta de atuação e expressão.