No passado dia 17 de junho, seguramente sem essa intenção, o nosso primeiro-ministro, em direto e em todas as TV’s, insultou os profissionais de Saúde em Portugal. Fê-lo, quando disse ao País que a suprema honra e felicidade imensa que resultam de ter a final da Liga dos Campeões em Lisboa é “um prémio” para esses profissionais, entre os quais me incluo. Dá vontade de o mandar meter o prémio… numa gaveta que desses prémios não precisamos. Para salgar a ferida, o nosso incontornável Presidente, lá apelou por mais responsabilidade e trabalho à ministra da Saúde, como se alguma coisa, no que ao trabalho na prestação de cuidados de saúde diz respeito, dessa estimável senhora dependesse. Na sequência da palhaçada montada, em estilo “Estado Novíssimo”, tivemos a grande revelação sanitária de que, nas palavras da nossa querida DGS, “quanto mais visitantes por causa da Champions melhor, mas há que respeitar regras”. Imagino que sejam regras que impeçam o superseeding de vírus que aconteceu com os encontros, parece que da mesma Champions, entre Atlético de Madrid e Atalanta (em Bergamo foi a desgraça que sabemos) e Liverpool e Valência. Temos campeonato com estádios vazios e, no entanto, talvez possamos ter Champions com tudo ao molho. Enfim, a economia assim o dita, poderemos ser o despejo do SARS-CoV-2.

Mas as insanáveis contradições são ainda mais. Há dias, li que, “a manter-se a evolução” – cada vez mais casos de COVID-19 -, “a ministra da Saúde apontou a retoma de consultas, exames e cirurgias não urgentes”, que tinham sido de novo suspensos na Grande Lisboa, para depois de dia 28 de junho. A nossa governante, cheia de otimismo, já está a trabalhar para a supressão da epidemia no próximo inverno. Diz a Dra. Temido que “estamos a trabalhar não só com os ventiladores que chegaram, mas também com o reforço de camas nos cuidados intensivos”. Os que “chegaram” ainda não provaram que são robustos suficientes, pese embora sejam cópias, tipo mala Louis Vuitton, de máquinas que Europeus e Americanos já fabricam há anos. Como não se precaveram antes, era o que havia e, mesmo assim, chegaram tarde. Quanto ao reforço de camas de intensivos, não tendo havido construção de mais hospitais, nem ampliação dos existentes, sabe-se que foram roubar espaço a outras necessidades.

Entretanto, como tinha havido uma suspensão da atividade clínica normal, indevida e excessiva como demonstra a decisão de retomar prestação não urgente logo que a epidemia está a crescer, as listas de espera aumentaram e… devemos estar contentes porque vem aí a Champions e as suas hordas de infetados. Não que eu ache mal, temos de comer turistas ou as migalhas que eles nos deixarem, mas haja coerência. Não se pede mais. Confinámos, em excesso, cautelarmente, com bons resultados indiscutíveis. Desconfinámos, inevitavelmente, atabalhoadamente, sem preparação prévia e chamámos a Champions. Somos mesmo, nas imortais palavras do Prof. Rebelo de Sousa, dados a “momentos únicos, irrepetíveis” de “imbecilidade”.

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