A vitória de Isabel Díaz Ayuso nas eleições de Madrid é um sinal que a direita em Portugal deve ter em conta. Ayuso venceu porque não pediu autorização nem deu justificações à esquerda. Ayuso  venceu com um programa oposto ao do Vox e não porque governou coligada com este. Ayuso ganhou em toda a linha porque percebeu que o que os madrilenos mais queriam, o que os madrilenos mais desejavam era liberdade. E se a sua governação desde 2019 teve isso em conta, o programa que apresentou nas eleições da última terça-feira tiveram esse ponto em consideração.

O primeiro aspecto que Ayuso referiu durante a campanha foi que sem liberdade não há igualdade. Esta é uma verdade óbvia, mas muitas vezes esquecida. Pelo menos em Portugal onde se confunde liberdade com oportunismo e exploração. Onde a liberdade deixou de estar relacionada com a igualdade perante a lei. Onde ser um bom cidadão não equivale a ser zeloso no trabalho, em tentar poupar parte do rendimento que se recebe, em cuidar por uma boa educação escolar para os seus filhos ou em ser socialmente prestável. Em Portugal um bom cidadão não passa de um bom cumpridor de regras. Alguém que paga impostos, consome (porque o socialismo precisa de consumo para que a economia pague a despesa pública), entrega o futuro dos filhos ao estado e questiona o menos possível. Com tantas regras transformámo-nos num país extremamente desigual pois quando as regras dificultam a vida, nomeadamente os negócios e as empresas, o que resulta é que apenas os  que se relacionam com o poder, ou os que têm mais dinheiro, as conseguem ultrapassar. Uns recebem autorizações especiais; os outros, os cidadãos comuns sem ligações ao poder socialista, ficam para trás.

A liberdade pressupõe igualdade perante a lei. Sem uma não há lugar à outra. Esta foi a mensagem-chave que Ayuso recuperou e que em Portugal devemos retomar também. Porque a liberdade exige tolerância, respeito pelas diferenças, espaço para que todos possam e consigam viver de acordo com aquilo que lhes diz algo. Em comunhão com a sua essência humana. Em liberdade na busca de si próprios.

Esta liberdade não é abstracta. Concretiza-se na escolha da educação dos filhos, na escolha da escola, seja esta pública ou privada. Implica ainda a liberdade dos pais escolherem a educação dos filhos de acordo com as suas crenças e os seus valores. Pressupõe, inclusive, liberdade na escolha da escola pública, pois que a determinação da escola através de critérios estatais, baseados no território, conduz à desigualdade. Uma desigualdade da qual quem queira fugir terá de mentir e violar regras. Deixar de ser um bom cidadão porque quem queira o melhor para os seus filhos terá forçosamente de desrespeitar regras. E isto não é um pormenor. É uma verdadeira degradação moral a que o estado obriga e que passa dos pais para as crianças e para os jovens. Porque sem liberdade não há moral.

Esta liberdade não é abstracta. Concretiza-se na liberalização da actividade económica, para que não existam empresas campeãs nacionais, que mais não são que empresas favorecidas pelo poder político. Não há liberdade sem igualdade. Em democracia o estado é governado não para gerir, mas para garantir a liberdade e a igualdade; não para mandar, mas para se conter. O enfoque de uma governação deve ser o de garantir que o estado cumpre as suas funções essenciais sem que o excesso de intervenção destrua o esforço das pessoas. A consequência é óbvia: um governante deve cuidar para que as contas públicas sejam excedentárias e que o excesso se aplique na efectiva redução da dívida acumulada. Porque com dívida pública não há liberdade nem igualdade. Uma elevada dívida pública exige impostos altos e um controle burocrático da actividade económica (da vida das pessoas), um golpe na liberdade que nunca será igual para todos, pois haverá sempre os que conseguem ficar de fora ou mesmo escapar. É a velha máxima da liberdade e da igualdade perante a lei.

A vitória de Ayuso trouxe algum alento à direita portuguesa: mostrou que afinal é possível vencer o socialismo. Mas a vitória de Ayuso em Madrid não caiu do céu, mas da defesa corajosa e intransigente da Liberdade. Porque, e uma vez mais repito, sem liberdade não há igualdade. Com esta fórmula, Ayuso venceu os socialistas, arrumou o perigoso Podemos e esvaziou o Vox. Isabel Díaz Ayuso fez-nos ver que a mensagem base de Margaret Thatcher continua a ter ouvinte ávidos. Basta trabalho, confiança e não querer saber o que dizem os defensores das regras que tolhem a liberdade. Não perder tempo em justificar a liberdade àqueles que não a prezam. Àqueles que a receiam.

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