No debate do Estado da Nação assistimos estupefactos à desfaçatez do Primeiro Ministro ao falar do investimento na saúde, na educação e nos transportes, narrativa que esbarra impiedosamente nos casos que vão sendo revelados. O estado dos serviços básicos é inaceitável e o Governo vai falando de empolamento de casos pela oposição.

Na saúde há demissões de equipas como por exemplo no Hospital de São José em Lisboa e a demissão em bloco da direção no Centro Hospitalar Tondela-Viseu, encerramento de camas por falta de pessoal e de material básico na Maternidade Alfredo da Costa, no Hospital de Lamego, no Hospital de São João, entre outros. Fecham serviços inteiros. Na educação os professores estão em guerra com o Ministério e há escolas em estado de degradação notória. Ameaça-se com greves na justiça. Nos transportes, a oferta de comboios está a ser suprimida por falta de material.

Os casos que conhecemos são apenas a ponta do iceberg. Os dados divulgados pelo próprio Estado mostram que o Governo falhou os seus objetivos em termos de investimento público, sobretudo nas áreas fundamentais para a qualidade de vida das famílias. Na Saúde, na Ciência e Ensino Superior, no Ensino Básico e Secundário e na Justiça o investimento em 2017 ficou mais de 50% abaixo do que tinha sido previsto no orçamento. O caso da Saúde é especialmente grave, porque o investimento desceu mesmo face a 2016, -5,2%.  Os primeiros números de 2018 sugerem que o Governo ainda não aprendeu nada. A Unidade Técnica de Apoio Orçamental já veio revelar que o investimento está abaixo do que seria expectável se o Governo cumprisse o objetivo inscrito o Orçamento.

E a troco de quê? O Governo aparentemente sacrificou o investimento nos serviços públicos para, como gosta de apregoar, repor rendimentos e direitos. Mas só para alguns, porque gerou desigualdades na forma como trata diferentes funcionários públicos sem a mínima justificação. Do lado da receita tudo isto foi pago com o aumento da carga fiscal, mas agora com mais incidência nos impostos indiretos, como o imposto sobre os combustíveis, que são menos percetíveis para as famílias.

Este é o Estado da Nação, mas ainda vai sendo maquilhado pelo empurrão do crescimento internacional. Só que as ameaças políticas e económicas que vêm do exterior adensam-se e quando elas se concretizarem Portugal será dos primeiros países a cair. Depois de o anterior Governo ter salvado as funções básicas do Estado da pré-bancarrota herdada do Governo de Sócrates, este Governo volta a pôr os serviços públicos em risco. Se estamos agora assim, que a conjuntura ainda vai razoavelmente bem, o que será quando os ventos mudarem?

Jane Austen falava sobre a necessidade da sensibilidade e do bom senso, que inteligentemente ela conjugava, nos assuntos do coração. Mas que falta que eles fazem na governação! A insensatez grassa sobre o caminho que o país precisa de fazer e a insensibilidade é total perante os problemas que causam os cortes de investimento público na vida das pessoas. É isto o reflexo do esgotamento a que está votado este Governo apoiado pelas esquerdas que vão fingindo que fazem oposição.

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