O que desejo para os meus alunos? O mesmo que desejo para os meus filhos: que sejam felizes e me ultrapassem em fortaleza e conhecimento.

A Escola sempre foi para mim uma segunda casa. Desde os meus tempos de aluno, do Liceu de Santarém até aos dias de hoje no meu trabalho. Lá, ainda miúdo, encontrei alguns verdadeiros mestres (só muito mais tarde o percebi), adultos que nunca tiveram qualquer pretensão sobre mim, mas que estavam sempre presentes e que, incrivelmente, tinham muito gosto nisso. Educaram-me, fortaleceram-me no carácter, ensinaram-me muito para além do que escreviam nos quadros de ardósia e do que eu lia nos manuais; sobretudo levaram-me a descobrir quem eu era, sem nunca o dizerem. Fizeram-me olhar para a minha vida e compreender o que queria fazer com ela; não fizeram o caminho por mim, não me mostraram o caminho sequer, simplesmente acompanhavam-me e nunca deixaram de me fazer perguntas. Mais tarde percebi o que queria para a minha vida, queria ser como eles: um educador!

A Escola é um lugar de encontro entre os adultos e os que caminham para o ser. Este encontro potencia uma história, enriquece a vida, dá-lhe ou aumenta-lhe o significado e o sentido. A Escola vive de uma presença, de um conteúdo e de um desafio a cada um: para que cada um se revele, para que possa fazer uma escolha, para poder tomar uma decisão.

A Escola é vital para que eu me descubra e aprenda a lidar com o que me rodeia. É o espaço onde cada um é desafiado a conhecer. A descoberta assenta no conhecimento. É decisivo conhecer cada matéria, relacionar-se com ela e, por fim, apoderar-se verdadeiramente dela. Aos educadores cabe passar esta herança para cada aluno; são eles os principais portadores do conhecimento e os geradores, por isso, da curiosidade e do interesse em cada aluno. Isto acontece porque são os educadores que arriscam propor um significado, um nexo entre o que o aluno vive e aquilo que deseja.

No tempo, esta companhia, normalmente, torna-se uma amizade, um desejo de querer mais para cada um deles do que para mim próprio. Ser adulto é ser estaca para os alunos: não os substituímos, ajudamo-los a crescer bem e a poderem ser únicos. No tempo, a estaca deixa de fazer sentido; é aí que cada um, ainda jovem, começa a ter verdadeiras perguntas e a transformá-las em problemas (às vezes provocações), não por gosto em complicar (ou implicar), mas sim por um desejo de perceber a razão das coisas. Neste trabalho, demorado e paciente, cada jovem é insubstituível. Só ele pode verificar cada coisa e é isso que lhe permite reconhecer a herança e apoderar-se dela! É um tesouro que passa a conhecer, a estimar e a desenvolver.

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Os pares, os amigos, são aqueles que ajudam a perceber melhor quem somos, qual o contributo que temos a dar, a abrir-nos a todos. A consciência dos talentos ganha sentido quando os colocamos ao serviço. Uma amizade verdadeira descansa (também os pais!), ao mesmo tempo que coloca em movimento. Em movimento em direção a algo, por vezes ainda desconhecido, mas que é certo e seguro: um bem maior para a vida.

É simples, é normal, é só tentar sempre fazer bem: sustentado na estaca que é o adulto, fundamentado no conhecimento, reconhecido através do amigo e pronto para responder a tudo!

Vice-reitor do Colégio São Tomás
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.