Se repararmos na forma como um dos pais abandona uma espreguiçadeira e se senta na areia, mal o seu filho chega à praia, dando-lha para apanhar sol, ou o modo como, num almoço a dois, uma mãe aguarda, com uma paciência interminável, que o filho se passeie pelo telefone (que olha, fixamente, enquanto a mãe fala sozinha), aparentemente, sim. Se dermos importância ao tom com que muitos deles falam aos pais ou à forma como, depois, lhes reviram os olhos, a resposta será, outra vez, sim. E se anotarmos a maneira – quase amedrontada – como os pais reagem ao seu mau-humor ou ao jeito como são destratados, ou cedem às suas exigências, a resposta continuará a ser sim.

É claro que as transformações da adolescência não são fáceis e que as exigências escolares que os adolescentes têm sobre si lhes roubam, todos os dias, simpatia e empatia. É claro que a forma como os adolescentes se desiludem com a distância que vai entre aquilo que lhes foram exigindo e tudo o que os pais acabam por ser, não ajuda a que uns e outros se escutem e se respeitem e que falem, mutuamente, com clareza, acerca daquilo que sentem. É claro que os ídolos, por um lado, e os grupos de adolescentes, por outro, trazem outras perspectivas de vida, e sonhos e desejos diversos que fazem com que eles se desencontrem mais dos pais. E é, finalmente, claro que a forma como as marcas e as redes sociais falam para os adolescentes e o modo como a televisão e os jornais os ignoram ajuda a compor uma sensação de “gueto” que uniformiza comportamentos e, aparentemente, homogeneíza as suas diferenças. Mas, apesar de todas essas “desculpas”, serão, hoje, os adolescentes mais egoístas?

É verdade que todos nos tornamos mais egocêntricos sempre que somos mimados. Mas quando é que se “escorrega” do egocentrismo (razoavelmente saudável) das pessoas amadas para o egoísmo (áspero e desprezivo) que muitos adolescentes revelam?

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