Quando surgiram as primeiras notícias sobre a Covid-19 – num país tão longínquo, o que nos dava, então, a falsa sensação de que estaríamos perante um surto distante e que não nos afetaria –, nunca imaginaríamos que um vírus conseguisse parar o mundo. Em poucos meses, assistimos a uma crise social, económica e política sem precedentes – transversal a todas as áreas da sociedade e que, infelizmente, trará repercussões a longo prazo –, com o setor automóvel a ser um dos mais afetados pela pandemia. Em Portugal, este setor representa 8% do PIB nacional, integra cerca de mil empresas e conta com aproximadamente 75 mil trabalhadores. Em 2019, o volume de negócios situou-se nos 15 mil milhões de euros, valor que irá reduzir, previsivelmente, 30% este ano. Só aqui, encontramos o primeiro sinal de alarme.

O facto de exportarmos 98% da produção final de veículos para alguns dos mercados mais afetados pela pandemia, e, como tal, altamente fragilizados, coloca o setor nacional numa posição ainda mais frágil. Não vivemos, agora, uma crise nacional. Enfrentamos uma pandemia mundial, o que elimina qualquer alternativa estratégica.

Se pensarmos que quase 90% das empresas deste setor foram obrigadas a recorrer ao lay-off, e que, dos cerca de 75 mil trabalhadores desta indústria, aproximadamente 68 mil terão sido abrangidos (com maior ou menor duração) por esta medida e por algum apoio do Estado, percebemos bem o impacto social e económico da pandemia.

Estimamos que cerca de 15 mil trabalhadores deste setor ficarão sem emprego. Este número é já mais ou menos conhecido e reconhecido. Contudo, os problemas não se limitam a este período de estagnação do mercado. É necessário pensar já no relançamento da atividade e no futuro dos trabalhadores desta indústria. Mas de que trabalhadores estamos a falar? Que tipo de desemprego criará esta pandemia? Falamos, sobretudo e infelizmente, de desemprego jovem, da nova força de trabalho, das novas ideias e da produtividade e competitividade desta indústria. Serão eles – precários e com contratos a termo – as maiores vítimas da Covid-19.

É hora de pensarmos na importância estratégica desta indústria – a nível nacional e internacional – e de ativarmos os mecanismos necessários que permitam salvaguardar a nova geração do setor. Falamos, por exemplo, de medidas de apoio às reformas antecipadas, que permitam às empresas pensar na saúde e segurança dos colaboradores mais antigos, reconhecendo o trabalho e dedicação de décadas e permitindo que, depois de uma vida inteira a dar resposta às enormes exigências físicas que o trabalho diário neste ramo acarreta, possam ter a opção de escolha: continuar no ativo ou, em alternativa, optar pela reforma antecipada. O setor não pretende, de forma alguma, abdicar destes colaboradores (até porque falamos de uma força de trabalho altamente qualificada). O setor quer, sim, ter disponíveis os mecanismos que lhes permitam oferecer esta escolha. Paralelamente, estaremos a abrir novas perspetivas para aqueles que, caso nada se altere, terão o seu futuro no setor – pelo menos nos próximos anos – hipotecado.

Não deixemos que a Covid-19 faça mais vítimas. Não é necessário. O impacto, em todas as gerações, é já enorme!

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