Continuo o tema do último artigo, i.e., silêncio de novo.

Já ouviram falar de Namkje Koudenburg? Investigadora na área da psicologia e com um artigo muito interessante sobre pequenos silêncios. Prosseguindo na linha da construção da liderança, usar 4 segundos de paragem, que podem ir até 10, às vezes pode ser surpreendente. Para o bem como para o mal.

Há, de facto, alguma coisa estranha que emerge de uma conversa interrompida por um breve silêncio. Nada como experimentar ou ser exposto a esse contexto. Mas continua a olhar os olhos dessa pessoa enquanto fazes esse silêncio.

Koudenburg descreve e percorre esses silêncios inquietantes. Já se sabe que os silêncios, seja porque se aceitam tranquilamente – com maior substrato emocional – seja porque são difíceis de gerir – para todos quantos têm menor endurance emocional –, podem ser particularmente perturbadores se “desorganizarem” o fluxo da conversa.

Namkle fez duas experiências. Expôs um grupo alargado de pessoas a um único e breve momento de silêncio e procurou extrair conclusões sobre as necessidades sociais, o consenso percebido, as emoções e a rejeição.

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A primeira experiência demonstrou que as conversas fluentes estão associadas a sentimentos de pertença, a elevação da auto-estima e a validação social. Quando um breve silêncio perturba esta fluência, surgem algumas emoções negativas e sentimentos de rejeição.

Na segunda experiência fez-se uma réplica destes efeitos num ambiente mais realista (menos laboratorial) e mostrou-se que os efeitos de um breve silêncio são, de facto, consideráveis apesar do desconhecimento dos participantes sobre a natureza (e os porquês) do silêncio.

Em ambos os estudos, os resultados mostraram que o fluxo da conversa induz sentimentos de pertença e elevação da auto-estima. E que conduzem a validação social.

O silêncio é, porém, um tema central em liderança. A liderança que sabe calar, conter, refrear, avaliar, perceber a sua envolvente e as suas reações quando se silencia. A liderança que sabe usar o silêncio como arma poderosa, por vezes perturbadora, mas não necessariamente pejorativa, das emoções presentes.

Quem não percorreu corredores com professores aos gritos por cima do barulho da turma, tentando contê-la? Há sempre um misto de espanto e de perplexidade sobre como será possível tentar passar por cima do barulho dessa turma!?

Já foste certamente interpelado por questões que, na fluidez do diálogo, poderiam ter resposta rápida. Não a deste e ficaste a pensar na possível resposta. O desconforto do outro lado, sobretudo quando te conhecem menos bem, é notório. E a quebra do silêncio acaba por acontecer por quem colocou a própria questão.

O silêncio, se bem gerido, provoca inquietude, desconforto, expressões muito frequentes do tipo “Não me estás a ouvir!”. Nada disso. O teu interlocutor pode estar a pensar. Muitas vezes sem saber responder. E não usa necessariamente estes silêncios para te provocar. A verdade é que estes silêncios acabam por importunar. Usam-se para procurar a resposta, ou a melhor resposta, dentro de cada um. Muitas vezes quando se encontra a resposta já passaram alguns segundos e a conclusão do outro lado já foi “volto mais tarde” ou “estou a incomodar-te”.

Na realidade as pessoas sentem-se desconfortáveis com pequenos silêncios. Porém, verdade também, é que estes pequenos silêncios a maior parte das vezes não são deliberados e outra boa parte das vezes são absolutamente necessários. As respostas às questões que outros fazem virão deles se se esperar um pouco em silêncio. O desconforto é cortado por quem questiona porque convive mal com períodos de silêncio. Sente-se não validado, sente-se ameaçado, desconfortável.

Mas, lá está, para liderar é preciso muitas vezes conseguir impor algum silêncio. Breves silêncios que serão, eles próprios, reveladores do quão capazes são, ou não, os vários interlocutores de se gerir emocionalmente. Usam-se não necessariamente para criar desconforto. Usam-se, devem usar-se, para medir o calibre emocional, o personal power e mesmo o self-awarness de alguém que está à tua frente. E podem ir de 4 a 10 segundos. Experimenta-os.