Uma notícia de há dias dos jornais alertou-nos para as derivas da modernidade e convoca-nos para uma defesa ainda mais cerrada, intensa e militante da pessoa em todas as suas dimensões. Uma vez que nunca teve filhos, parece que o guru alemão da moda, Karl Lagerfeld, designou a sua gata Choupette como herdeira principal da sua fortuna avaliada em cerca de 110 milhões de euros.

Apesar do nosso sistema legal não o permitir (os animais não têm capacidade sucessória), não me admiraria se por gosto do PAN e do Bloco de Esquerda fossemos um dia destes confrontados com uma mobilização qualquer para se implementar em Portugal esse tipo de exercício de pura e simples discricionariedade (que é absolutamente imoral nos termos). E falsamente travestido em disposição de suposta liberdade pessoal. Que evidentemente não o é na medida da crucial inversão da ordem natural que supõe.

Herdam pessoas, não os animais. Uma imposição ontológica que dimana da realidade natural. Uma realidade crescentemente afrontada pelo desvario da ordem cultural moderna, por natureza subjectiva e subversiva. E que está errada. Uma ordem natural que compreende a verdade perfeita, eterna e não ideológica de que o homem e a mulher são absolutamente diferentes, apesar de absolutamente iguais na sua dignidade de pessoas. Com tudo o que isso acarreta. Ou que pressupõe que o casamento só pode ser entre um homem e uma mulher. Com tudo o que isso acarreta. Apesar de todos simplismos cegos, de toda a cobardia cívica, de todas as irresponsabilidades pessoais. E de todas as edições modificadas que se forjem do código civil.

A protecção da totalidade da realidade natural e nela da pessoa, de todas as pessoas sem excepção, é a obrigação mais solene, mais grave e mais urgente do sistema político-partidário português.

Advogado

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