Estocolmo, 23 de Agosto de 1973.

Jan-Erik “Janne” Olsson entra encapuzado, armado com uma metralhadora e explosivos na filial do Kreditbanken, na praça de Norrmalmstorg, no centro da capital sueca. “Para o chão, a festa só está a começar”, grita em inglês antes de disparar para o tecto, fazendo quatro funcionários reféns e revelar as suas exigências: três milhões de coroas suecas, um carro e caminho livre para sair do país. Exigiu também que Clarck Olofsson, um dos criminosos mais famosos do país e que Olsson conhecera na prisão fosse levado para o banco. As autoridades em pânico com a possibilidade de execução de reféns, aceitaram.

Ali permaneceram os seis, dois sequestradores e quatro reféns, durante seis dias; durante este tempo estas pessoas estabeleceram laços entre si, por questões de sobrevivência, os reféns cumpriram as ordens dos seus captores, não discutiram e não fizeram perguntas, limitaram-se a obedecer com um único objectivo: sair dali com vida. Quando tudo acabou e a polícia finalmente entrou na agência bancária, os reféns ficaram ao lado dos assaltantes. Kristin, uma das reféns, e Olsson acabaram por se apaixonar e casaram.

Desde então, denomina-se Síndrome de Estocolmo a um conjunto de mecanismos psicológicos que determinam a formação de um vínculo afectivo de dependência entre as vítimas de um sequestro e os seus captores, e sobretudo a aceitação por parte dos reféns que os motivos dos seus carcereiros são válidos, e que de facto a privação da liberdade a que estão sujeitos tem justificação.

Foi no dia 18 de Março de 2020 que os portugueses começaram a ver a sua liberdade restringida, nessa dia, o sitio do Governo na internet dizia o seguinte: A democracia não poderá ser suspensa, numa sociedade aberta, onde o sentimento comunitário e de solidariedade é cada vez mais urgente. Assim, o presente decreto pretende proceder à execução do estado de emergência, “de forma adequada e no estritamente necessário, a qual pressupõe a adoção de medidas com o intuito de conter a transmissão do vírus e conter a expansão da doença COVID-19”.

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Desde então pessoas foram multadas por, imagina-se, passearem em praias desertas, viajarem para visitar familiares que vivem noutros concelhos ou porque desafiaram os novos tiranetes, abrindo o seu negócio para poderem colocar comida no prato dos filhos. Portugal de 2021 assemelha-se demasiado a esta agência bancária sueca, na praça de Norrmalmstorg do dia 23 de agosto de 1973: assentimos sem questionar que nos mantenham reféns na nossa própria casa, enquanto aqueles que nos governam se passeiam pelo país sem serem questionados e viajam para o estrangeiro sempre que lhes apetece. Constatamos impávidos que os turistas estrangeiros poderão viajar de norte a sul do país durante a Páscoa, mas achamos normal que os portugueses não possam sair do concelho.

Quando foi que chegámos a este ponto? Quando foi que abrimos mão da nossa liberdade, tolhidos que fomos pelo medo?

A resposta não é fácil, mas uma coisa é certa: ou percebemos depressa que não podemos continuar assim ou quando acordarmos poderá ser demasiado tarde.