Temos falado muito de “resiliência” desde que a pandemia eclodiu. A última vez em que este termo ficou mais em evidência foi recentemente quando a ministra da Saúde afirmou que os profissionais de saúde tinham que ser “resilientes” e causou ondas de choque e indignação pela nossa praça pública. Parece-me que com razão, mas não sei se pelas razões que a maioria das pessoas apontaram, ou pelo menos, as explicitaram de forma clara. Resiliência não é “resistência” nem “fortaleza”, como erradamente muito aparece mencionado. Resiliência tem associado a si coragem, apoio, e, muito importante: recuperação. Não existem pessoas resilientes sem gerir períodos de recuperação.

Olhemos para o desporto, por exemplo. Os atletas de mais alta competição sabem muito bem gerir o descanso. De outra forma, nunca conseguiriam os altos níveis de performance que atingem. Ora, pelo nível de trabalho que os profissionais de saúde apresentam e a tendência para que os jovens considerem a profissão menos atrativa, será que têm observado períodos de recuperação? Se não se oferecem estes períodos, mais vale não existirem queixas de falta de motivação ou falta de pessoal. Ou exigências excessivas. É tempo de se começar a valorizar  – de resto, em qualquer profissão – os tempos de descanso e a conciliação do trabalho com a vida pessoal. Este sinal devia apelar à atenção do poder político para as novas necessidades da profissão e… ao uso correto do termo resiliência. Esta necessidade não se limita ao setor da saúde. A afiançar pelas notícias, meio mundo está a deixar os seus empregos também por estas razões – a chamada “Great Resignation”.

Há que também acrescentar que não considero que o Governo seja o único culpado por este burnout médico (e geral). A mentalidade também não ajuda. Na cultura vigente, fica bem dizer que se trabalha “muito”. Entre o público e o privado, 15 horas por dia, não se vê a família e come-se sandes da máquina de vending o dia todo. Eu lembro-me de vários médicos que me trataram, dos quais agradeço a dedicação, mas, será que estavam a tratar deles próprios com aqueles horários? Depois, também existe – em todos os setores – o que trabalha supostamente muito mas só em aparência, pois as horas úteis de trabalho são poucas.

Em defesa dos profissionais de saúde e não só. Há que mencionar que trabalhar mais horas permite acumular um salário maior e, num país com salários baixos e impostos altos, é, de facto, útil. Mas não é esse o tema deste artigo.

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O termo “resiliência”, por isso, está longe de estar a ser bem usado e tornou-se uma buzzword que serve para tudo. Ao mesmo tempo, é muito positivo que se fale sobre este assunto, pois é uma competência vital para qualquer profissão e para a nossa vida.

Ouvi até líderes políticos mencionarem a resiliência como sinónimo de “resistência”. O que é errado. Como soa parecido, parece que é a mesma coisa, mas não é.

Já o tenho escrito aqui e até criei um canal de youtube só sobre este tema e muitos convidados meus me esclareceram de forma cabal. Cheguei à conclusão com a minha investigação de que é uma autêntica ciência, a qual possui aplicações não só nas ciências comportamentais como na química, como verifiquei com um convidado que entrevistei neste canal, um Professor suíço ou com o Professor de Harvard que falou sobre a resiliência dos serviços de saúde.

Então vamos lá ao termo. O que significa resiliência? Começo pelo que não é. Não é ser resistente, nem forte, nem persistente. Há várias definições na literatura, mas a que parece mais unânime diz-nos que resiliência é a capacidade de voltar ao estado original depois de uma queda. Ou seja, não assume que : 1) a pessoa resiliente tem uma resistência ilimitada, tipo super-homem; 2) a pessoa resiliente não pode “cair”. Pode. A questão é que se levanta de novo. “The ability to bounce back”.

Por isso, vamos usar bem os termos e assim responder às novas (e antigas) necessidades da força de trabalho. Porque não é quem trabalha muito que trabalha bem, mas quem trabalha de forma inteligente, que trabalha bem.