No que respeita ao comissariado para as comemorações do cinquentenário do 25 de abril, o que mais me repugnou foi a duração do mandato. Há outros aspectos criticáveis, mas este é um abuso incomensurável. O Primeiro-Ministro, que foi eleito para um mandato de quatro anos (2019-2023), nomeou alguém para um período superior a cinco anos. Isto será um comissariado ou um ministério? Cada leitor que faça a respectiva avaliação. Mas propaganda será de certeza.

Nada tenho contra cargos de confiança política. Apoio-os e aceito-os naturalmente. Apenas defendo, e faço-o há mais de três décadas, que este tipo de nomeação esteja indexada à permanência temporal de quem nomeia. Aliás, neste contexto, reitero que os “boys”, seja de que partido forem, que são colocados e/ou integrados na administração pública não deveriam ser considerados como funcionários públicos. Devia ser criado um estatuto análogo à função pública, mas temporário para manter a administração do Estado isenta e apartidária. Deste modo, os “boys” deixariam de o ser. Afinal, os boys que actualmente poluem a administração pública servem os portugueses ou os interesses partidários?

Saliente-se que esta nomeação é igualmente uma inacreditável ingerência na capacidade de decisão política da próxima legislatura. Apesar das sondagens serem hoje favoráveis a António Costa, não há garantias que este continue como titular do poder executivo. Para alguns, este ponto pode ser uma insignificância. Mas não o é. Que outro princípio será pervertido no futuro?

Disto isto, falemos agora do escolhido e das deploráveis declarações que fez após a nomeação. O professor universitário (que diz ir deixar de ser) e comentador (que não deixará de ser) Pedro Adão e Silva, negou ser um boy socialista por já não ser militante e afirmou que não andava à procura de emprego. Gracejou com o facto de não ter sido escolhido por ele próprio, mas não disse se se teria escolhido se pudesse. Por fim, expressou que a democracia tem problemas quando há pessoas que não concordam com a nomeação dele, o que é significativo do entendimento que o próprio tem de democracia.

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A ascensão pública de Pedro Adão e Silva não se deve à sua participação no braço armado socretino da blogosfera? Há dúvidas? E não é evidente que anda à procura de emprego? Sempre andou. Para além disso, demonstra não ter hombridade. Senão vejamos. Primeiro, diz-se preocupado com o estado do Estado. Tanto, que até escreveu sobre as políticas públicas para a reforma do mesmo. Contudo, aceita ser cúmplice num desrespeito pela democracia. Se tivesse dignidade, teria dito ao Primeiro-Ministro para tomar esta decisão na próxima legislatura. Ser nomeado apenas daqui a dois anos não impossibilitaria uma faustosa comemoração dos 50 anos de abril. Segundo, a consideração seria outra se mantivesse o salário da sua profissão, não a suspendendo, e se, pro bono, se dedicasse à celebração da causa que diz reverenciar. Não me digam que a vasta equipa e meios ao seu dispor são insuficientes para continuar a dar aulas. Terceiro, mantêm-se como comentador e não vê qualquer conflito de interesses. A sério? Será a escola Centeno? Se ser ministro, perdão, comissário e comentador não é problema, porque não ser também jornalista? Um três em um é sempre desejável.

Eu penso que a celebração da democracia exige isenção ideológica e programática. Mas Pedro Adão e Silva diz que Passos Coelho e a troika (uma dádiva originada pela gestão do seu querido Sócrates) foram mais danosos do que Álvaro Cunhal e o PREC.

Assim, que podem os Portugueses esperar como resultado do trabalho desenvolvido por Pedro Adão e Silva? No mínimo, as Socialíadas. Há 449 anos, Luís Vaz de Camões, que precisou de quinze anos para terminar a sua obra, escreveu os Lusíadas, onde narrou a magnífica epopeia dos Portugueses. Pedro Adão e Silva, coitado, terá pouco mais de cinco anos. Mas os tempos são outros e disporá de uma equipa às suas ordens. O esforço também não é comparável, porque para vender a tragédia socialista nunca foi necessário substância. Só propaganda plena em inanidade e miragens.

E é por conhecer a longa e profícua inclinação propagandista de Pedro Adão e Silva relativamente ao socialismo, que me permito fazer algumas sugestões para a sua equipa. Que tal Francisco Louçã? Existe maior manipulador e demagogo na política portuguesa? Mamadou Ba e Rita Rato são as outras hipóteses. Ambos estarão disponíveis para perverter a história. Três assistentes especialistas que são uma pechincha. Para adjuntos sugiro a dupla Pacheco Pereira & Lobo Xavier. Serão instrumentais para simular a pluralidade e inestimáveis para garantir a quadratura e a anuência do status quo, pois convivem bem com o sistema socialista. Finalmente, para algumas pessoas, como creio ser o seu caso, não há nada como o silêncio da concordância. Logo, apenas Pedro Marques Lopes pode ser o seu motorista.

Não se preocupe com factos ou com os Portugueses. Eles são secundários. Foco no objectivo: sem pobreza o socialismo morre! Assim, é imperioso que as Socialíadas vendam a tragédia socialista.