As pessoas não ficam em casa porque não confiam no Estado para lhes amparar a falta de rendimento.

Os pequenos negócios não fecham as portas porque não confiam no Estado para lhes garantir a sobrevivência — e a subsistência dos seus… (funcionários!).

Medidas bonitas, milhões e milhões para apoio às micro-empresas. Medidas sem esclarecimentos, com seus processos burocráticos do costume, geram a desconfiança do costume — “apesar de estarmos genuinamente nesta situação, apesar de solicitarmos os apoios… será que eles virão?”

Medidas de excepção, de urgência, de emergência… não deveriam os TOC receber directivas práticas sobre os apoios para poderem tranquilizar as tantas micro-empresas e pequenas empresas que os avençam? Custa muito elaborar um documento…

Não deveria a AT-Financas saber responder (e… mais rápido que o habitual), pelas linhas telefónicas e email acerca de todas as questões que se adensam e lançam os empresários em dúvida, insegurança e lhes toldam a capacidade de decidir pelo melhor dos seus funcionários? Terão todos estes empresários de, quase cegamente, na nuvem escura e macabra da vileza da AT e sua ‘PIDE’ de cobrança, decidir entre a saúde dos funcionários, os rendimentos dos funcionários, os pagamentos a fornecedores, as multas das finanças, o passo em frente num terreno ardiloso onde o abismo só se adivinha quando nele já voamos verticalmente em queda?

Neste país tão grande e tão grandioso, país que dominou meio-mundo e nele desenvolveu indústria, arte e todo o tipo de riqueza; este país de que hoje se vai aprendendo vergonhosamente a ter vergonha, de si e da sua história, impondo disciplinas de reescrita do nosso ADN subordinados ao pseudo-liberalismo (o do excesso) e ao moralismo infinito e infindável – onde a liberdade do indivíduo se vai subtilmente sobrepondo à liberdade da comunidade; neste país das Descobertas onde nos disseram hoje, neste novo milénio, neste novo século, nesta nova década, que poderíamos nós também partir à Descoberta, nós também lançar-nos ao mar e fazer do empreendedorismo o vento das nossas velas, nós também contribuirmos com o nosso suor, sangue e lágrimas para construir um pouco do país, da sua comunidade, do sustento do seu povo – pois este país é Porto seguro para de onde partir e onde vir atracar, abastecer e prosseguir…

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…É neste país, neste país!, que estamos condenados a ver-nos sem ar, sem mar, nem porto onde nos abrigar? Onde estão os grandes rostos que Portugal sempre teve ao longo das inúmeras gerações que pariu? Onde estão hoje os filhos Estadistas da nossa Pátria-Mãe?

Como é já nossa essência trágico-cómica (nossa, portuguesa, mas apenas da história recente…), tal como a neblina nos traz a esperança do regresso do Rei jovem personificando a esperança, também eu hoje tento, cerrando muito os olhos míopes, ver no C0ovid-19 algum traço de esperança de que a nossa classe política venha eclodir da sua casca de incoerência/inconsistência/incompetência/irresponsabilidade/inconsequência/indiferença para se mostrar e mostre que onde até hoje vimos, de Belém a São Bento, ovos de codorniz olhando-nos da última prateleira e de cima para baixo, estava afinal uma ninhada de Estadistas e Patriotas a que Portugal não faltaram nos vários séculos da sua história e que eu cresci a estudar e admirar — apenas esperando o calor do ninho para despertar.

Este é o relato de um pequeno empresário, um micro-empresário talvez, como há tantos neste país e para quem o “sangue, suor e lágrimas” não é um ‘lugar comum’, mas sim uma realidade tantas e tantas vezes comum.

Viva Portugal! E como o cantou, escrevendo, o poeta: ‘Quem te sagrou criou-te português,

Do mar e nós em ti nos deu sinal.

Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.

Senhor, falta cumprir-se Portugal.’

Pois cumpra-se Portugal!, pelos tantos Infantes que se espalham pelo país e que sabem todos os dias ser Reis das suas fragilidades e Conquistadores dos seus medos.

Viva Portugal!