Por enquanto, o nome de Vladimir Putin, Presidente da Rússia, não está fixado em nenhum documento revelado, mas é evidente que, sendo ele o senhor absoluto no país, é improvável que não saiba o que fazem os seus amigos e familiares próximos. Há já há muitos anos que o nome de Putin está ligado a casos de corrupção e de desvios de meios públicos no país.

Em 1992, uma comissão criada pela Assembleia Municipal de São Petersburgo para investigar as actividades de Vladimir Putin à frente do Comité para Relações Externas da Câmara de São Petersburgo, concluiu que Putin tinha estado envolvido em desvio de fundos e a Assembleia Municipal exigiu a demissão dele e encarregou a Procuradoria de investigar as suspeitas de corrupção e desvio de fundos, mas o caso foi abafado. Em troca da exportação de matérias-primas, algumas estratégicas, São Petersburgo deveria receber produtos alimentares e outros que muita falta fazia então, mas nada chegou.

Recentemente, em Espanha, terminou a investigação e está prestes a entrar nos tribunais o “Processo da Máfia Russa”, onde existem fortes suspeitas de ligações entre os alegados bandidos detidos pela polícia espanhola e o “Czar” (nome de código do Presidente Putin).

É importante assinalar que, tanto nas operações criminosas em Espanha como nos “Papéis do Panamá”, figura o Banco “Rossya”, dirigido Nikolai Chamalov e Iúri Kovaltchuv, homens muito próximos de Putin desde os tempos de São Petersburgo.

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Periodicamente, a pouca imprensa russa independente publica casos de corrupção entre os círculos mais próximos do Kremlin, tendo avançado que a fortuna de Putin pode rondar os 44 mil milhões de euros.

Há alguns anos atrás, o líder russo afastou Anatoli Serdiukov do cargo de Ministro da Defesa por acusações incessantes de corrupção. Foram condenados a leves penas de prisão alguns dos funcionários, entre os quais a amante do ministro, mas ele rapidamente foi reconduzido para outro importante cargo.

Mas mesmo que isso não seja verdade, coloca-se uma questão: como é que o Presidente Putin, que dirige um país que ele próprio reconhece estar mergulhado na corrupção, podia desconhecer os casos revelados nos “Papéis do Panamá”?

Entre aqueles está, por exemplo, Tatiana Navka, esposa do actual porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, aquele que vem agora dizer que estas revelações são obra não de jornalistas, “mas de antigos funcionários da Secretaria de Estado norte-americana, da CIA e de outros serviços de espionagem”.

Na lista divulgada há também dois governadores de duas regiões da Rússia, vários deputados do Parlamento russo, os filhos e sobrinhos de vários ministros do governo russo e até um sobrinho de Nikolai Patruchev, chefe do Conselho de Segurança da Rússia. Patruchev é considerado um dos mais influentes “silovikis” (ex-agentes do KGB) nas estruturas do poder no país.

Nada proíbe os familiares de políticos e governantes russos de terem contas em zonas offshores, mas uma lei, aprovada em 2013 por Putin para “combater a corrupção”, proíbe “deputados e funcionários públicos de possuírem instrumentos financeiros estrangeiros, nomeadamente acções em companhias offshores”.

Pelos vistos os citados governadores e deputados desobedeceram às ordens do Presidente, mas outros governantes e políticos parecem ter-se limitado a passar os negócios para o nome de “filhos”, “primos”, “esposas”, etc.

Não é previsível que este escândalo abale o poder do “Czar” ou enfraqueça a teia da corrupção na Rússia nos tempos mais próximos, mas, em caso de crise política, certamente que muitos se irão lembrar destes episódios.