Será uma surpresa se António Costa levar ao Parlamento o Orçamento de Estado apresentado em Outubro. Passaram 6 meses, mas a inflação está acima dos 6% (vamos ser optimistas irritantes), a dívida pública ronda os 272,4 mil milhões de euros e os juros da dívida pública a 10 anos  triplicaram. Não é nada que não se soubesse já pois há dois anos que a inflação era um risco e da dívida pública nem vale a pena falar. A somar temos uma guerra na Europa. Esta, além da instabilidade que causa, requer mais gastos na defesa. Como? Ninguém sabe. O que sabemos é que o cenário não é famoso. Dir-se-ia que os próximos meses vão ser difíceis para António Costa. Certo? Não necessariamente.

António Costa é um homem com sorte. Diz-se que a sorte protege os audazes e não há maior audácia que fazer de conta que se governa um estado mantido a soro induzido por Bruxelas. Na verdade, o Primeiro-Ministro limita-se a gerir a vida de Portugal à beira abismo. Foi o que fez nos últimos 6 anos e que a guerra lhe permite fazer nos próximos 4: gerir a distribuição dos danos que a desagregação impõe. Costa aguentou-se nos 4 primeiros anos da sua governação sem encetar reformas porque a esquerda receava o regresso de Passos Coelho. A razão não era para menos, pois a continuação do governo de Passos permitiria à direita usufruir politicamente dos benefícios da sua governação. Depois da vitória de 2019, a pandemia voltou a libertar Costa da obrigação de governar. Finalmente, e quando se esperava que, sem o PCP e o BE, Costa se preparava para levar a cabo as tão propagadas reformas do estado eis que se inicia uma guerra em plena Europa. Um pretexto que António Costa vai usar para nada fazer que não seja gerir a tal distribuição dos danos que a desagregação impõe.

A culpa já não será de Passos nem da pandemia, mas da guerra. O que vier de bem será fruto das suas políticas, das suas ‘contas certas’. Nunca do soro de Bruxelas (com o aval de Berlim). O PIB per capita em Portugal já é o 7.º mais baixo da Europa. Vamos passar mais quatro anos nas mãos de um ilusionista até que este decida sair antes de tempo para que a tempo o descrevam como o homem providencial que evitou o pior. Não tenhamos dúvidas que maioria absoluta permite que António Costa ponha e disponha como entender da legislatura que agora começa.

Para já deixou cair o guarda-chuva de Marcelo. A divulgação da lista dos novos ministros horas antes do encontro com o Presidente é uma mensagem que Marcelo percebe melhor que ninguém já que faria o mesmo. O governo é essencialmente político e um acto da tal gestão de danos que António Costa faz tão bem: Pedro Nuno Santos precisa da pasta se quiser suceder a Costa e este precisa de o ter debaixo de olho; a Mariana Vieira da Silva é-lhe concedido tempo para se impor; a Fernando Medina para se reabilitar e a Ana Catarina Mendes para que não digam que não tem experiência governativa. É um governo a pensar no futuro do PS, não de Portugal. Entretanto, um comentador independente do PS passou calmamente a ministro da Cultura do PS. E assim vamos andando. Enquanto a sorte lhe permitir Costa continua. Já quando cautelosamente quiser sair ficaremos a saber que o azar bateu à porta dos incautos.

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