A ideia para este texto, ocorreu-me quando, pela enésima vez, assisti ao “Sozinho em Casa” na televisão portuguesa. A analogia relativamente às eleições internas no CDS é simples: De um lado um filme já visto, vezes sem conta, do outro, um filme novo, mas que é antigo nos valores e nas propostas. Francisco Rodrigues dos Santos (FRS) é um filme novo. Não é prequela e, muito menos, sequela.

Voltemos ao filme que passa todos os Natais. Já todos o vimos, vezes sem conta. Sabemos como começa, o que acontece no durante e também como acaba. É um filme bem realizado e melhor produzido, com vista à obtenção de um resultado: ser um filme de família, que não traz mensagem, não levanta ondas, não abana consciências. Transporta-nos para aquele mundo onde os maus até são simpáticos e os bons são mesmo muito bonzinhos. Tudo acaba em bem.

No entanto, vê-lo – o filme – todos os anos, é apenas mais do mesmo. Conhecemos as tiradas. Rimo-nos dos gags mesmo antes de acontecerem, porque sabemos que vão acontecer. Conhecemos os protagonistas, mas somos levados a acreditar que têm todos aquela idade que tinham no filme. A verdade é, infelizmente, mais dura: uns já morreram, outros envelheceram bastante e outros levam uma existência de má sorte.

Também a nível de audiências, o filme “Sozinho em Casa” já viveu dias melhores. Descem de exibição para exibição. É normal. Mesmo os meus filhos já não têm paciência.

O filme que FRS quer realizar não é o “Sozinho em Casa” nº 35. É um novo filme, com novos actores: uns pela idade, outros – a maioria – porque ainda não lhes foi dada uma oportunidade no mundo do “cinema”.

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Tem igualmente um guião que, baseado em histórias antigas – que são antigas por serem boas e não o contrário – não é requentado. Foi escrito pela sua mão e não por um ghost writer.

Aos militantes do CDS deve ser perguntado se querem ser actores num filme a estrear, ou se, pelo contrário, querem ser figurantes numa versão requentada de uma película que já passou nos cinemas. Se querem que os diálogos lhes toquem o coração e os comovam, ou se querem continuar a conhecer de antemão, o que vai ser dito e quando vai ser dito.

Não querer assistir na 1ª fila ao filme do CDS, realizado por FRS, é como alugar uma versão Director’s Cut de um filme que já vimos no passado. É o mesmo filme, com umas cenas “novas” que não apareciam na versão original.

O filme de FRS tem também outra originalidade: Não tem twist no final. Já todos vimos filmes, em que somos levados a crer – durante o mesmo – que o mau da fita é X e, numa reviravolta final, o mau é, afinal, Y. Quem vai à procura disso, engana-se e não vai gostar. Aqui as personagens não mudam no decorrer da acção. Quem é Conservador não passa a liberal, só porque fica bem no écran. Não sendo um filme confessional, quem for Católico pode assumi-lo sem ter medo de que tal possa ferir audiências mais sensíveis. Quem é de Direita não é relegado para papéis secundários, para que o filme não fique rotulado.

É um filme de autor. Não apenas daquele que dá a cara, mas de todos aqueles que estão cansados de um estilo que – caindo bem a uns quantos críticos de cinema, que, maliciosamente dizem gostar, embora prefiram outros géneros – tem vindo a perder adeptos ano após ano.

Este realizador quer que as pessoas gostem das ideias que tem para o seu trabalho, mas não está disposto a abdicar das mesmas para ter mais pessoas a gostarem do dito.

Ao apoiar FRS, ao querer ser actor no seu filme, sei ao que vou e, principalmente, ao que não vou.