É a isto que se chama “tempestade perfeita”. Quer dizer, provavelmente Anthímio de Azevedo discordaria. Mas temos de admitir que é uma grande coincidência o Squid Game – Jogo da Lula, em português – ser o maior sucesso de sempre da Netflix, no exacto momento em que as parvas jogatanas partidárias em torno do Orçamento do Estado voltam a revelar a flexibilidade, própria de um molusco, dos líderes dos partidos de esquerda nacionais.

Atenção, posso estar a precipitar-me. Há uma primeira vez para tudo. É que, bem vistas as coisas, talvez a simultaneidade do Squid Game da Netflix e do tal Stupid Game em torno do Orçamento do Estado seja tudo menos uma coincidência. Porque se é verdade que a série sul-coreana é toda ela à base de jogos infantis que redundam em violência, qual é a verdadeira base deste Orçamento do Estado? É o Plano de Recuperação e Resiliência. E a que assistimos nós aquando da aprovação do PRR? Assistimos a António Costa a jogar ao jogo infantil “Mamã Ursula von der Leyen Dá Licença que Eu Vá Já ao Banco?”, num momento que violentou a dignidade dos portugueses. É que é quase impossível distinguir entre os dois jogos.

Bom, mas concedo que as semelhanças entre o Squid Game e este Stupid Game fiquem por aqui. E, desde logo, pelo seguinte facto óbvio. É que enquanto no Squid Game um orçamento baixo vai produzir imensa receita, o Stupid Game em torno do Orçamento terá o condão de ajudar a transformar uma maquia significativa em despesa para os nossos netos. Se ainda houver algum por cá para a pagar. O que é pouco provável, na verdade. Ou seja, vai-se a ver e está tudo bem. Esqueçam este parágrafo.

O que é mais preocupante nisto do Squid Game é, sem dúvida, o facto de os miúdos, nas escolas, andarem a imitar as versões violentas dos jogos infantis que vêem na série. Enfim, preocupante é como quem diz. De certa forma, até é bom a criançada jogar novas versões dos jogos tradicionais. Sempre é uma maneira de os putos intervalarem daquela variante do Jogo do Pião em que eles próprios não passam do dito objecto de madeira, metal, ou plástico, de forma cónica, com um bico, no meio das moscambilhas em que sindicatos de professores e Ministério da Educação arranjam sempre forma de lixar alunos e pais.

E aqui chegados, perguntará o leitor, no caso, remoto, de ter até aqui chegado: “Mas, afinal, é sobre o quê, esta série sul-coreana, Squid Game?” Ora bem, tendo eu visionado parte de um trailer do seriado, sinto-me mais do que habilitado a responder. Portanto, uma vez que Squid Game é a história de um concurso em que pessoas comuns, endividadas, competem por um prémio milionário, e em que quem perde é morto, estamos, como é óbvio, na presença de uma inteligente alegoria do capitalismo. E porquê? Porque se fosse uma alegoria do comunismo jamais uma pessoa comum se tornava milionária. Como é que eu sei? Fácil. Basta, para além de ver alegorias do capitalismo vindas da Coreia do Sul, olhar para a hipérbole comunista que é a Coreia do Norte.

A propósito do estupendaço comunismo, a China vai aumentar a capacidade de produção de 153 minas de carvão, responsáveis por 60% da produção de eletricidade do país. E pronto, era só isto. Agora é esperar, com muita ansiedade, pelas encarniçadas acções de protesto contra este atentado ambiental perpetrado pelo governo chinês, que Os Verdes e o Bloco de Esquerda levarão, estou certo, a cabo. Depois de concluirem a visualização do Squid Game, claro.

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