A afirmação que dá o título a este texto, foi aquela com que os romanos brindaram Cartago quando estes tentavam evitar a guerra: o poder não se divide.

É esta intransigência que o liberal e democrata Adolfo Mesquita Nunes (AMN) apresenta ao seu partido e ao seu presidente.

Francisco R dos Santos (FRS) ganhou – limpinho, limpinho – o congresso. AMN apoiou um outro candidato.

Nestas coisas da democracia é assim mesmo. Uns perdem e outros ganham. Quem ganha tem o direito de levar avante as suas políticas pelo período pelo qual foi eleito.

Tendo esse direito, FRS optou por não ostracizar ninguém. Na sua direcção entraram elementos das outras duas listas (inclusive daquela que AMN apoiava). Falou com todos os ex-presidentes, ouviu os militantes com peso e história, disponibilizou-se a aceitar a colaboração de todos.

Uns disseram sim, outros nim, outros optaram pelo ataque nas redes sociais, nas tv´s, nos jornais.

FRS não quis o poder absoluto, esteve disposto a aceitar concessões com o fim de unir o CDS porque vê o partido como instrumental. O bem final é Portugal.

FRS, 3 semanas depois de ser eleito, viu-se a par com uma pandemia, com um partido destroçado em eleições legislativas e a braços com uma dívida que tolhe toda e qualquer acção que se queira empreender. FRS não tem responsabilidades sobre o desastre eleitoral, sobre a pandemia e sobre a dívida.

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Pode AMN dizer o mesmo no que respeita ao desastre eleitoral?

Fazendo um ano da sua vitória eleitoral, FRS é confrontado com um ataque à sua presidência que, no fundo, é o culminar de uma série de movimentações – coordenadas diga-se – que começaram com uma putativa candidatura a PR por parte de AMN, de uma série de artigos de jornal pelos amigos do costume, que, embora derrotados em congresso, continuaram com o tempo de antena como se nada tivesse passado. Um saravá aos nossos órgãos de comunicação social que são como o algodão: não enganam ninguém.

Nota: AMN no texto do Observador não declara explicitamente se é candidato. Ou seja, se vier a onda atrás dele, será. Se não vier, ele dirá que nunca disse que era. Como costumava dizer um advogado da velha guarda com o qual trabalhei: Deixe-se de partes!

Sobre a forma de querer convocar um CN do partido através dos jornais, nem vale a pena comentar. Eu não assisto ao big brother e não gosto reality shows. Sou e faço parte dum partido institucionalista

Já quanto ao timing: é interessante constatar que este call to arms apareça quando PSD e CDS discutem ao mais alto nível a questão autárquica. Será para condicionar a mesma? Ajudar, não ajuda. 1) Será que AMN pretende que o CN tenha na sua ordem de trabalhos a estratégia eleitoral autárquica e, ao mesmo tempo, a marcação de um congresso electivo? Ou 2) pretende que fique tudo pendurado à espera do novo presidente? Ou 3) aceita que o novo presidente cumpra um acordo do qual não foi tido nem achado? Já vi ideias melhores, vindas de pessoas menos capazes.

Quando Assunção Cristas anunciou que não seria candidata à liderança do partido, três pessoas deram corda aos sapatos, fizeram milhares de quilómetros, gastaram o latim, negociaram, gastaram dinheiro do seu bolso, prejudicaram a sua saúde, as suas vidas profissionais, as suas relações familiares. AMN não era um desses três.

Agora, quer um congresso extraordinário rapidamente. Se for candidato não terá de suar as estopinhas a fazer campanha. Apresenta-se em congresso como salvador e será levado em ombros – sonha AMN.

Dos quilómetros que FRS fez, muitos foram feitos comigo. Fiquei a conhecer o partido e as suas gentes. Apreciam quem trabalha e não quem manobra nos bastidores. Gostam de quem dá a cara, à frente das suas caras, de quem não desvia o olhar quando defende as suas ideias. Premeiam a coragem e a frontalidade e não quem tem amigos melhor posicionados.

Estou confiante na manutenção de FRS como presidente do CDS. No entanto, nesta coisa da democracia a hipótese da derrota é sempre uma possibilidade. Se for esse o caso, não sairei para nenhum partido, pois não existe – até ver — quem represente a democracia cristã.

Mas, gostava de saber se AMN continuará no partido se, mais uma vez, perder. Tenho uma ideia, mas o futuro o dirá.