Será que as novas alternativas sustentáveis acarretam problemas que não estamos a ter em conta? Esta é a pergunta que serviu de mote a esta reflexão.

Hoje, mais do que nunca, sabemos que o caminho para uma economia verde exige planos concretos e imediatos, mas será que com esta urgência não nos esquecemos de olhar para as consequências das nossas soluções? Se olharmos para o passado percebemos que todos os processos de mudança tiveram consequências, muitas vezes, mais graves do que os problemas que resolveram.

Há uns tempos, li um artigo que levava os leitores numa viagem pela história dos transportes, com o qual aprendi que, no final do século XIX, quem passeava nas ruas de Londres ou de Nova Iorque convivia com dejetos de cavalo. Na altura, a solução para acabar com este fenómeno que acarretava graves consequências sanitárias e ambientais foi o automóvel. O que não sabiam é que os veículos automóveis trariam uma outra série de problemas que ainda hoje procuramos resolver ou amenizar. Os poluentes que emitem são menos visíveis, mas não são de todo menos nocivos.

Hoje, assistimos ao mesmo fenómeno com o crescimento do mercado dos veículos elétricos ou com os smartphones. Sabemos dos seus benefícios, ou daquilo que nos apresentam como vantagens, mas… será que consideramos os recursos ou os métodos de extração utilizados na sua produção?

Os veículos elétricos tornaram o cobalto num dos recursos mais valiosos do planeta, tendo o preço por tonelada disparado de 26 mil dólares para 90 mil dólares entre 2016 e 2018, altura em que a União Europeia e os Estados Unidos da América rotularam o metal como matéria-prima essencial, colocando, assim, em cheque a República Popular do Congo, o país africano conhecido pela sua extração, muitas vezes associada à exploração infantil. A verdade é que 20% do cobalto extraído no país provém de mineração ilegal. 

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Se dúvidas houvesse, podemos analisar também a exploração de silício, um elemento químico fundamental para a construção das células fotovoltaicas dos painéis solares, cujas vantagens ambientais são já conhecidas. Contudo, se considerarmos que a produção dos painéis liberta compostos de enxofre e de cloro nocivos, aos quais acrescem as emissões do processo de extração e o facto de ser responsável pela poluição das reservas freáticas, podemos, mais uma vez, concluir que não existem soluções perfeitas.

Assim, podemos concluir que vivemos numa sociedade que precisa de se repensar enquanto comunidade e como um todo em torno do termo “sustentabilidade” e nesta perspetiva de mudança é imperativo que reformulemos, profunda e criteriosamente, a forma como utilizamos os recursos. Ter a noção de que o nosso consumo implica pensar conscientemente que cada um de nós provoca um impacto num planeta que cada vez tem menos para oferecer.

Estamos prontos para mudar, de forma consciente, os nossos hábitos de consumo reduzindo a necessidade de exploração de recursos? É algo em que devemos pensar.