Temo que a palavra sustentabilidade seja demasiado usada e pouco pensada por estar tão presente no nosso dia-a-dia, nas redes sociais, na televisão, nas revistas, nos jornais, no marketing das empresas… sabemos realmente o que é o conceito de sustentabilidade?

Desde que fundei a Skizo, que o conceito de sustentabilidade se cruza em todo o trabalho que desenvolvo no meu dia-a-dia. A sustentabilidade, seja ela ambiental e ecológica, empresarial, social ou económica, sendo estratégica ou não, importa ser transparente e realmente sustentada por um conjunto de medidas estabelecidas.

Não podemos afirmar que uma marca é 100% sustentável, quando trabalha somente um aspecto da sustentabilidade, deixando os outros para trás.

Enquanto empreendedora e fundadora de uma marca sustentável, importa referir que não posso apenas escolher matérias-primas sustentáveis, mas sim conhecer a origem e como elas chegam até nós. Tenho o dever, também, de ser socialmente justa, não apenas com os meus clientes e público-alvo, como também garantir o desenvolvimento pessoal e condições justas para quem trabalha direta e indiretamente com a empresa. Não menos importante, é ser economicamente viável não dependendo de verbas externas. As empresas precisam de gerar lucros e de desmistificar este lado de que uma empresa com impacto ambiental e social também pode e deve ser sustentável economicamente, sem, obviamente, colocar em risco o meio ambiente.

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O desenvolvimento sustentável é aquele se preocupa com as necessidades presentes sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Neste sentido, quando vamos à origem da palavra, sustentabilidade significa suster, suportar, conservar em bom estado, manter, resistir. Tudo nos orienta para as próximas gerações. O que fazemos hoje tem repercussões a curto e a longo prazo. Todos pensam saber o que significa sustentabilidade, mas poucos são claros na sua explicação.

A sustentabilidade está baseada no chamado “Triple Bottom Line”, ou seja, três pilares que assentam no económico, no social e no ambiental. Isto que dizer que qualquer marca dita sustentável, para ser viável, terá que ser socialmente justa, ambientalmente responsável e economicamente lucrativa. Por outro lado, a sustentabilidade não é só uma questão empresarial. Todos temos que participar e perceber que todas as nossas ações têm um impacto no meio ambiente. Como consumidores, é fundamental exigir mais transparência quanto à comunicação das marcas e das empresas – métricas, dados de origem das matérias-primas, métodos de produção. Ainda há uma grande parte da população que não consegue ver a amplitude do conceito e a complexidade deste, pensando que sustentabilidade apenas se reduz à utilização de recursos naturais ou a uma questão de filantropia ou de responsabilidade social.

Foi na tecnologia que, desde a criação da Skizo, encontrei a melhor forma para que fosse criada uma matéria-prima realmente sustentável onde o lixo é transformado em têxtil. Desta forma, é solucionado um problema ambiental e social e só depois é criado o produto para o mercado.

A situação e o panorama global em que vivemos exige ações urgentes e pensadas a longo prazo. Todos poderemos fazer parte desta História e ajudar a traçar uma trajetória diferente que altere os dados preocupantes que nos chegam todos os anos quanto ao rumo do nosso planeta, da nossa casa, a casa que é de todos. Projetos e acções serão apenas sustentáveis se forem bons hoje e amanhã também, portanto, sim, tenho receio que o conceito seja apenas uma “moda” da qual todos falam e poucos conheçam. E tu? Sabes realmente o que é a sustentabilidade?

Andreia Coutinho, licenciada em jornalismo e Ciências da Comunicação e da Cultura, é empreendedora há mais de uma década e foi na Skizo que encontrou uma forma de deixar um legado e realmente fazer algo com verdadeiro impacto na sociedade e no planeta. Co-fundadora e CMO da Skizo, um projeto e marca que ganhou força quando foi mãe e se reforçaram as preocupações, nomeadamente ambientais, para as próximas gerações. É uma grande amante e apaixonada pelo meio ambiente e actividades ao ar livre, sobretudo mar e praia, que partilha com o filho de 4 anos. E a par desta paixão tem uma empatia especial por mulheres empreendedoras, muitas também elas mães, assumindo vários papeis durante as 24 horas do dia. Andreia preocupa-se não só com o ritmo e rumo do nosso planeta como também com a educação, muito pouco evoluída e preocupada com as verdadeiras competências das crianças, que ainda se pratica nas instituições, particularmente no nosso país, quando comparada com a educação no Norte da Europa.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.