A 1 de Agosto assinala-se o Dia Mundial do Cancro do Pulmão, data que pretende despertar a atenção para um problema de extrema importância: o cancro do pulmão possui uma incidência crescente e é o maior responsável por morte oncológica no mundo.

No nosso país são diagnosticados mais de 4500 novos casos por ano e morrem 12 portugueses por dia com cancro do pulmão. Igualmente preocupante, é a estimativa da Organização Mundial de Saúde, que prevê a duplicação da sua taxa de mortalidade nos próximos 25 anos. Para inverter esta tendência tem de existir um esforço concertado.

Nunca é demais relembrar, que o tabaco está intimamente relacionado com este cancro e persiste como o principal fator de risco evitável. Cerca de 80 por cento das pessoas que desenvolvem cancro do pulmão são, ou foram, fumadores. Muitos dirão que conhecem fumadores inveterados que nunca tiveram a doença, ou não fumadores que dela padecem, e tal é verdade, dado que o desenvolvimento de cancro do pulmão depende não só dos agentes cancerígenos presentes no tabaco, independentemente da sua forma de consumo, como também de fatores ambientais, da suscetibilidade individual e da predisposição genética. No entanto, os dados científicos comprovam que um fumador tem um risco 20 vezes superior de cancro do pulmão, comparativamente a quem nunca fumou. E aqueles que conhecem bem a doença, porque a tiveram, ou contactaram com quem a teve, sabem quão devastadora pode ser do ponto de vista psicológico, físico, familiar e social.

Aqui, a frase popular “mais vale prevenir do que remediar” aplica-se na íntegra. O fumador beneficia sempre e em qualquer idade de deixar de fumar, ocorrendo uma redução progressiva da probabilidade de cancro do pulmão no ex-fumador, face a quem mantém a dependência tabágica. Apesar desta diminuição, os estudos clínicos evidenciam que o risco de cancro em alguém que cessou o consumo de tabaco há 25 anos se mantém quatro vezes superior comparativamente a quem nunca fumou. Assim, é crucial manter uma vigilância regular do estado de saúde. A ausência de sintomas ou de alterações radiológicas nunca constitui um consentimento para continuar a fumar, mas, sim, uma oportunidade para alterar comportamentos.

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Na maioria das situações, os sintomas ou sinais de alarme de cancro do pulmão aparecem em fases avançadas da doença, altura em que os tratamentos disponíveis são menos eficazes. Importa esclarecer, que até ao início do século XXI, todas as tentativas de rastreio, nomeadamente com recurso à radiografia do tórax, ou testes de sangue, não se revelaram eficazes e são, presentemente, desaconselhadas. Nos últimos 15 anos, a deteção precoce de cancro do pulmão começou a dar os primeiros passos, e tornou-se uma realidade em alguns países. Hoje existe evidência que a realização anual de uma tomografia computorizada do tórax com baixa dose de radiação (TAC com dose reduzida de radiação X) possibilita a identificação de pequenos nódulos nos pulmões, impercetíveis na radiografia normal, e que, em muitas situações, correspondem a cancro em fase precoce, possibilitando um tratamento curativo definitivo com recurso a cirurgia. Em dois grandes estudos, um que englobou a população norte-americana e outro com indivíduos do Norte da Europa, a TAC de baixa dose permitiu uma redução de 20 por cento na mortalidade por cancro do pulmão. No presente, a deteção anual está recomendada em adultos entre os 55 e 74 anos, que fumam, ou deixaram de fumar nos últimos 15 anos, e têm um registo significativo de consumo de tabaco. Algumas sociedades científicas internacionais propõem o alargamento dos critérios de execução deste exame não invasivo e simples para indivíduos entre os 50 e os 80 anos, sobretudo, se existirem outros fatores que aumentam o risco ou história de familiares em primeiro grau com cancro do pulmão.

Dado o contexto vivido nos últimos meses, com receio de contágio pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, em que muitas pessoas adiam consultas e exames médicos, não podemos deixar de reforçar que o cancro do pulmão, quando identificado numa fase inicial, tem uma maior probabilidade de sucesso terapêutico – por isso mesmo, a avaliação precoce tem de constituir uma prioridade na agenda de quem tem fatores de risco. Um atraso de semanas no diagnóstico pode fazer toda a diferença e impossibilitar a oferta de um tratamento potencialmente curativo. Nesse sentido, as unidades de saúde nacionais têm vindo a retomar a sua atividade de forma gradual, colocando em prática procedimentos e circuitos adequados para garantir a segurança de todos.

Outro aspeto importante, que merece reconhecimento, é o investimento e desenvolvimento em terapêuticas destinadas ao cancro do pulmão avançado, com intuito de controlar a progressão da doença, melhorar a qualidade de vida e diminuir a mortalidade. O conhecimento da biologia deste cancro sofreu uma evolução considerável nos últimos anos e, na maioria das situações, é possível oferecer um tratamento personalizado, ou seja, pessoas diferentes têm terapêuticas distintas, adaptadas às suas caraterísticas e às especificidades do tumor. Um exemplo recente, constitui a descoberta e implementação da imunoterapia oncológica, que ativa o sistema imunológico dos doentes contra as células tumorais, proporcionando mais uma arma eficaz no arsenal terapêutico. Este tipo de tratamento existe no nosso país e é regularmente oferecido nas situações que têm indicação médica para o realizar.

Os tempos são seguramente de esperança para o cancro do pulmão, com inovações na deteção, no diagnóstico e no tratamento. A mudança do paradigma desta doença nos anos vindouros, só será possível se englobar a prevenção, com exclusão do tabaco e de outros fatores geradores de risco. Um futuro melhor está ao nosso alcance!