A sequência de acontecimentos dos últimos dias obrigou-me a consultar o dicionário. Enfim, são sacrifícios inerentes ao ofício de cronista. Fui ao dicionário confirmar o significado de silly season. E, ao contrário da ideia que tinha, afinal silly season não significa “Período do ano em que a actuação do Governo socialista é de tal forma ridícula que faz sentido usar um termo especifico para a definir, de modo a distingui-la do ridículo da actuação do Governo socialista durante o resto do ano”.

Fui assaltado por esta dúvida lexical a propósito da polémica em torno do publicitador precoce de aeroportos, Pedro Nuno Santos. O anunciador precoce de infra-estruturas aeroportuárias aproveitou a ausência de António Costa em Madrid, fechado numa sala da NATO sem comunicações, para avançar com a divulgação precoce de que Lisboa teria, não um mísero novo aeroporto, mas dois míseros novos aeroportos. Foi um daqueles casos em que a sabedoria popular acertou: patrão fora, dia de Santos na loja. Brilhou a grande altura, o Pedro Nuno. Aliás, houve até quem se tivesse interrogado: “O que é aquilo? É um pássaro… É um avião… Não! É o apresentador precoce de aeroportos nos quais inúmeros pássaros serão dizimados pelos aviões, Pedro Nuno Santos!”

A propósito dos novos aeroportos de Pedro Nuno Santos. Que é feito da opção Ota? Porque não se avançou com um terceiro aeroporto na Ota, senhores? Considero desperdício haver locais onde cabe perfeitamente um aeroporto e não se meter lá um aeroporto. De outra forma para que servem locais onde cabe perfeitamente um aeroporto? Ponham os olhos no que se fez em Beja. Cabia lá perfeitamente um aeroporto, meteu-se lá um aeroporto. Faço votos para que a desautorização de António Costa a Pedro Nuno Santos tenha tido por base, apenas e só, o facto de o ministro não ter anunciado, além dos aeroportos de Alcochete e Montijo, também um novo aeroporto na Ota.

Mas diga-se o que se disser do proclamador precoce de aeroportos, numa coisa Pedro Nuno Santos teve toda a razão. Era o que faltava ter de avisar o Presidente da República de tudo o que o Governo decide. Admito que numa primeira e precipitada análise isto pode parecer má educação. Mas não é. É até uma prova de profundo respeito institucional pelo mais alto magistrado da Nação. Então faria algum sentido informar Marcelo Rebelo de Sousa da decisão de construir dois novos aeroportos na zona de Lisboa quando, por estes dias, a única informação que interessava ao Presidente era a temperatura da água na zona de Copacabana? Não faria qualquer sentido. Seria até estar a desviar a atenção do Presidente daquele que era o ponto fulcral de uma importantíssima viagem diplomática ao Brasil: exibir pança e seios, desta feita a desprevenidos frequentadores de uma praia tropical.

Um dos pontos fulcrais. O outro ponto fulcral era reunir com o ex-presidiário condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, Lula da Silva. Que já foi Presidente do Brasil e é de novo candidato à presidência. Isto antes de reunir com o actual Presidente do Brasil. Que, até ver, não cumpriu qualquer pena de prisão. E ficou algo acabrunhado com tudo isto, vai-se lá saber porquê. É mesmo uma besta, aquele Bolsonaro, pá. E todo sensivelzinho, pelos vistos, também.

Para que a visita de Marcelo Rebelo de Sousa ao Brasil tivesse sido perfeita só faltou mesmo coincidir com uma daquelas visitas frequentes de José Sócrates a Lula da Silva. Aí, sim, teria sido uma deslocação oficial em cheio. Marcelo falava com o Lula sobre quão péssimo é o Bolsonaro, e falava com o Sócrates sobre quão péssimo é o Costa. No fim, todos concordariam que a definição de silly season devia ser: Período do ano em que a actuação do Presidente da República é de tal forma ridícula que faz sentido usar um termo especifico para a definir, de modo a distingui-la do ridículo da actuação do Presidente da República durante o resto do ano.

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