No dia 17 de dezembro de 2022, assisti a um momento histórico. Pela primeira vez, 30 mil professores saíram à rua porque decidiram, e não porque um sindicato decidiu.

Tudo começou quando o mais recente Sindicato dos Professores, em sufrágio com os seus associados e simpatizantes da causa, reuniram e tomaram decisões.

Terá sido o princípio do fim da hegemonia dos sindicatos do sistema? Estaremos perante um novo paradigma sindical?

Os professores vieram de todo o país, do Minho ao Algarve, organizados de forma autónoma. O que os professores pretendem é a restauração do respeito e da dignidade desta nobre profissão.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A esta pretensão somam-se outras mais específicas: a desburocratização do sistema, a contagem integral de todo o tempo de serviço, a rejeição da municipalização da educação, a eliminação das quotas de acesso ao 5.º e 7.º escalão.

Tenho de agradecer ao ministro da Educação, João Costa, e aos sindicalistas do sistema, pois a sua falta de sensibilidade e inércia nas decisões uniram esta classe. Quem manda nos sindicatos são os professores e não o contrário.

Agora os sindicatos do sistema brindam-nos com um calendário de ação reivindicativa, mas vem tarde. Muito tarde. Deviam ter escutado os seus associados e comparecido nas escolas para ouvirem os professores.

Nas últimas semanas, chegaram aos sindicatos e-mails a informar que, a partir dessa data, deixariam de contar com muitos professores como associados. Este foi um sinal de descontentamento dado pelos professores. Não foram ouvidos. Os sindicalistas sistemáticos agiram como crianças, amuaram porque não conseguiram iniciar este movimento reivindicativo. De facto, alguns sindicalistas não dão aulas há mais de 20 anos.

A profissão docente está um caos porque:

  • Alguns sindicatos deixam os partidos políticos mandarem;
  • Alguns dirigentes sindicais migram para cargos políticos, porque determinada central sindical está ao lado do Governo;
  • Alguns sindicalistas assinam acordos sem consultar os seus associados;
  • Os sindicalistas não fazem a mínima ideia da legislação vigente;
  • Os associados dos sindicatos não conseguem informação sobre o que o sindicato negoceia com o Governo.

Os sindicalistas que almejam um lugar no Governo não devem  ludibriar os Professores nem os Diretores que estão na Escola.

Após o dia 17 de dezembro, eu tenho esperança. Um povo adormecido acordou e percebeu que ou luta pela sua profissão ou morre. Quando os sindicatos e o Governo se sentarem na mesa das negociações devem pensar que tem uma classe, 150 000 professores a olhar e a ouvir.

Se tentarem mais uma vez prejudicar os Professores, já sabem o que pode acontecer.