Primeira sugestão: distrito de Lisboa

Implementar, ao nível do distrito de Lisboa, uma campanha de testes massivos com o objectivo de  testar, em duas semanas, pelo menos um elemento de cada agregado familiar.

Porque é no meio familiar que está a acontecer a maioria dos contágios e, porque dadas as características deste vírus, se um membro do agregado estiver infectado, as possibilidades de os outros também estarem são muito elevadas. Bastará testar um membro da família para que, estatisticamente, se esteja perto da certeza de infecção de toda a família e, confirmando-se esse caso, poderá passar-se a um teste alargado a todo o agregado familiar. Um estudo realizado em Agosto, em 58 famílias dos estados do Utah e Wisconsin, EUA, (escolhidos, porque nessa altura eram estados com baixas taxas de infecção comunitária) indicou, que em 54% dos casos, o SARS-CoV-2 infectou pelo menos mais um membro da família, com especial incidência para as crianças.

Segunda sugestão: concelho de Lisboa

Lisboa pode conduzir essa grande campanha distrital de testes, mas alargá-la ao segundo grande foco de contaminação, que são as empresas com mais de dois empregados, através do apoio da Polícia Municipal e de uma equipa especializada, reforçando a campanha distrital com uma testagem em cada empresa que opera no concelho.

Não há qualquer dúvida, de que o risco de infecção por Covid numa visita a um supermercado, durante uma ou duas horas,  é menor do que a permanência num espaço mais confinado, com maior densidade populacional e durante seis a oito horas, como num escritório. Embora existam formas de mitigar o risco de contágio em ambiente laboral – separação física dos funcionários, instalação de barreiras, criação de horários alternados e, claro, promoção do teletrabalho -, nunca o reduzirão a zero. Um estudo realizado em meados de 2020, em seis países asiáticos, identificou que 14,9% dos contágios, num total de 690 casos, estavam relacionados com contextos laborais, sendo os contágios mais frequentes, por ordem, em trabalhadores de serviços de saúde, motoristas, agentes comerciais, empregados de limpeza e funcionários da limpeza urbana. Outros estudos identificaram os locais de trabalho como os focos das primeiras vagas de infecção (em 47,7% dos casos). Isto reforça a necessidade imperativa de realizar uma campanha de testes neste tipo de contexto social.

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Terceira sugestão: freguesias de Lisboa

Complementar as campanhas distritais e concelhias de testagem através de um esforço realizado ao nível das juntas de freguesia de Lisboa, em que estas (desviando, se necessário, verbas não executadas do orçamento após aprovação em assembleia de freguesia extraordinária) testariam todos os cidadãos com mais de 65 anos.

Para completar esta abordagem, desde a amplitude distrital, seguida depois, pela concelhia, é preciso completar o círculo do cerco à Covid num contexto de máxima proximidade e de conhecimento profundo do terreno, características que estão geralmente associadas às juntas de freguesia, o órgão democraticamente eleito mais próximo dos cidadãos e que mais preparado está para os contactar numa base de porta-a-porta. Além desta proximidade e conhecimento do terreno, as juntas de freguesia de Lisboa foram dotadas nos últimos anos de generosos orçamentos de vários milhões de euros que este ano, em virtude das especificidades criadas pela pandemia, ficarão, provavelmente, por consumir. Existe, assim, dinheiro parado que pode e deve ser desviado para realidades mais prementes, sendo que uma destas pode e deve ser a realização de uma ampla campanha de testagem porta-a-porta e de contacto profilático com equipas multidisciplinares de todos os lares da freguesia onde residem cidadãos em particular situação de risco, com idades superiores a 55 anos, ajustando as prioridades de acordo com a comorbilidade.

Acredito que é preciso implementar com urgência esta estratégia em três frentes, numa variação daquela que a cidade britânica de Liverpool se prepara para lançar e que espera seja decisiva para erradicar o coronavírus em algumas semanas (a operação “Moonshot”), num estudo piloto que depois poderá ser aplicado ao resto do país e onde Lisboa poderia servir também de precursora para o resto de Portugal. Em Maio do ano passado, a cidade chinesa de Wuhan também realizou testes em mais de 11 milhões dos seus habitantes para impedir o ressurgimento do vírus. Mais recentemente, a Eslováquia decidiu testar toda a sua população em apenas dois dias. Estas operações mostram a possibilidade e o realismo de uma abordagem deste tipo e devem servir de exemplo para a região de Lisboa. Assim haja vontade para o fazer.