Sim, trata-se de um dilema, de um enigma ou de um mistério. Aceitá-lo é o melhor a fazer para um líder. Aceitá-lo e viver com ele de forma serena.

Porque a liderança não é igual para todos e não há todos esses estereótipos e formas de avaliar a liderança que por aí se proclamam. A liderança é o que é e é com cada qual, sendo que cada qual a exercerá à sua maneira.

Há pouco tempo fiz uma apresentação sobre liderança baseada em 10 pontos que hoje partilho.

  1. Tudo se trata do “eu e os outros”. Primeiro, o “eu avaliado e conhecido”. Ninguém lidera o que seja sem que se conheça bem. Depois, o “eu gerido”. Sem a “gestão do eu” também não há liderança. Depois, a “avaliação e o conhecimento dos outros”. Finalmente, a “gestão dos outros”. Portanto, só há exercício de liderança se houver um percurso sério “eu (conhecido e gerido) e os outros (conhecidos e geridos)”. Dito isto, cada “eu e os outros” é diferente e não obedece a nada. Obedece às regras e às práticas de cada qual. Por isso, querer liderar significa antes de mais e acima de tudo um enorme autoconhecimento e gestão própria para só depois passar ao conhecimento e relação com outros.
  2. Em segundo lugar, deve procurar-se em nós a nossa melhor versão. Já falei disto antes. Mas se temos pontos fortes e bons, pois usemos os nossos e não os de outros. Nada do que é plástico, mimetizado, copiável é bom num líder. Não somos uma coleção das melhores características de outros. Devemos ser uma coleção das nossas melhores características.
  3. Depois há que perceber que ser líder implica improvisar e improvisar à grande. Não há plano, antecipação ou forma de pensamento linear que conduzam um exercício de liderança. A improvisação, que não é invenção, é a exercitação da ação sem que nada seja planeado e sem que nada estivesse previsto. É o correspondente, na liderança, à estratégia emergente. A única coisa que não vale é a mentira.
  4. Em quarto lugar, o líder gere paradoxos e contextos. O que é verdade hoje pode não o ser amanhã. Não é mudar de opinião. E mesmo que seja. Só os burros não mudam de opinião. É, antes, perceber que o contexto muda pelo que devemos igualmente mudar. A única coisa que não vale é não explicar os porquês.
  5. E, não necessariamente por esta ordem, há que agir. A ação, a decisão, é fundamental num líder. Sem decisão não há líderes. Ouvir, recolher opiniões, ouvir muito, recolher muitas opiniões, mas não deixar passar nunca o tempo da decisão. O líder é um decisor. E um responsável pela decisão.
  6. O líder é responsável. Responsável pelas suas ações e por alguns dos comportamentos dos outros. É responsável pelos seus comportamentos e pelos comportamentos induzidos noutros. Por isso, o líder é o primeiro e o último numa cadeia alimentar – percebe-se o que quero dizer com isto, certo?
  7. O líder tem um Peter Pan dentro de si. Nunca se levará demasiado a sério. Nunca perde a criança que há em si. Nunca deixa de se rir, de comemorar e de estar ao nível dos demais, sendo que esse é o seu habitat natural. É ao nível dos demais que se pratica liderança. E que se usa o Peter Pan próprio. Quem matou o Peter Pan dentro de si não pode liderar o que seja. Matou a criança que há em si.
  8. O líder tem a humildade de pedir ajuda. Ajuda sempre. Ajudem-me neste caminho, ajudem-me a pensar, ajudem-me. Sendo que a ajuda não é a decisão. Mas é de ajuda que vive um líder. Porque um líder não é, nem nunca será, autossuficiente.
  9. O líder agradece. Agradece às suas equipas, agradece sempre o caminho, os resultados. Agradece aos que o ajudam. Agradece àqueles com quem partilha os dias e os projetos e ambições.
  10. O líder é ele próprio na sua melhor versão. É a coleção das suas melhores características que, depois de conhecidas, coloca em ação consistente. Mas não é um fruto de livros de autoajuda. Nunca. Melhor, tal como disse na apresentação que fiz, não leiam livros de autoajuda se querem ser líderes. Porque eles pura e simplesmente não ajudam em nada ao exercício da liderança.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR