Tudo começou lá longe, na China. O vilão nasceu num mercado ilegal, entre mariscos, marmotas, pangolins, aves, coelhos, ratos, cobras e morcegos.

A notícia do seu aparecimento chegou aos canais da Organização Mundial de Saúde no último dia de 2019, mas o mundo virou o ano a sonhar com um 2020 próspero, cheio de objetivos pessoais e coletivos, de crescimento e desenvolvimento económico, brindando em nome da saúde, da paz e do amor.

A normalidade na Europa manteve-se intacta por algumas semanas. Como foi humano não sentir o longe, não acreditar ou não antever no contágio generalizado, eventualmente ponderar até se seria coisa só de Chineses. Até os sempre informados mercados demoraram a reagir, iniciando a sua queda apenas no final de fevereiro.

Mas a primeira pandemia da era global não se fez esperar. Depressa se espalhou, viajando através de nós, pelos ares, pela terra e pelo mar, chegou a todo o lado, e fez do mundo uma bolha. Uma bolha viral, de um vírus desbravado em redes sociais virais, também elas pandémicas, nas quais mergulhamos nas horas de quarentena à procura de uma luz ao fundo do túnel.

Como todos vivemos isto na nossa pele, todos temos direito a uma opinião, desde logo porque todos temos de escolher a nossa atitude perante o vírus, e porque cada um de nós tem um papel crucial a desempenhar nesta batalha.

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O vilão microscópico não distingue nações, raças, religiões, estatuto económico ou social, mas diferencia idades, sistemas de saúde, boas e más decisões, responsáveis e irresponsáveis, bens necessários e desnecessários, e até condições climatéricas.

Mesmo sabendo que cenários de guerra pedem líderes especiais, intuitivos, decididos, carismáticos, éticos, exemplares, com capacidade de ler por detrás das cortinas da História e tomar as decisões mais difíceis, temos de procurar confiar nas nossas atuais lideranças e ajudá-las a ultrapassar esta crise. Este é o tempo de contribuir construtivamente, evitando análises políticas imediatas, meramente preocupadas em retirar louros políticos deste descalabro.

As decisões a tomar não são fáceis, têm impactos sistémicos, e a cura não poderá matar mais do que a doença. Será muito importante manter o tecido produtivo a funcionar, procurando evitar uma catástrofe económica, social e alimentar em cima deste desastre sanitário. A declaração de estado de emergência e as respetivas proibições serão tão importantes como garantir o bom funcionamento da cadeia de valor, para que não faltem bens essenciais, para que se mantenham empregos, para que a ruína não bata à porta dos Portugueses.

Seja como for, o ano de 2020 ficará marcado na História como o ano da pandemia global. Esperemos entrar em 2021 já reunidos com as nossas famílias e amigos, valorizando mais do que nunca esse convívio e contacto humano, dando ainda mais valor ás boas relações, ao trabalho, ao meio ambiente e à liberdade.

Nada mais do que isto nos demonstra como todos somos importantes, seja para derrubar uma pandemia, seja para parar o aquecimento global, seja para chegarmos à lua, seja para criarmos um estado democrático desenvolvido, ou para contribuirmos genericamente para uma sociedade melhor.

Nada mais do que isto nos demonstra como atitudes responsáveis, solidárias e construtivas podem fazer toda a diferença, sejam elas acatar a quarentena, cumprir com o pagamento dos impostos, contribuir para causas sociais, optar por proteger o ambiente, ser um bom profissional, criar ou gerir uma empresa com valores positivos, ou pura e simplesmente respeitar e ajudar o próximo.

Nada mais do que isto nos faz perceber a importância dos vários elos da cadeia de valor e como a interligação entre humanos de várias profissões é vital para o funcionamento das nossas sociedades. A ligação entre o Governo e os profissionais de saúde, entre os funcionários dos supermercados, os transportadores e os agricultores, entre os trabalhadores fabris e os empresários, entre a indústria farmacêutica e os hospitais, e por aí adiante.

Venceremos este vírus quando ficarmos todos saudáveis. Venceremos duplamente se nos apercebermos do quão importantes todos somos e do quanto conseguimos se agirmos em coordenação, se tomarmos decisões privadas, políticas e empresariais justas, equilibradas e socialmente responsáveis. Porque um sem o outro não vive e a responsabilidade social será provavelmente o conceito mais importante desta nova era da humanidade. Sem ela não sobreviveremos, nem ao vírus, nem a nós próprios.