Faltam escassas semanas para o dia das eleições nos Estados Unidos e já começamos a presenciar uma montanha-russa de opiniões, artigos e emoções que vão de uma vitória clara, rápida e confortável dos democratas a um regresso de proporções divinas do presidente Trump, sempre em torno do que torna a Florida, Pensilvânia e Iowa nos estados decisivos (swing states) e mais importantes em todo o universo.

Quem vai ganhar? Estranhamente, não se sabe. No entanto, será apenas a disputa Trump vs. Biden que irá afetar (e já afeta) as bolsas em todo o mundo?

Quando se trata de mercados financeiros, a composição do Senado dos Estados Unidos, o potencial atraso nos resultados ​​ou a decisão do Supremo Tribunal sobre o Ato de Cuidados Acessíveis (Affordable Care Act) apenas uma semana após as eleições, são fatores, juntamente com o nome do 46º presidente do EUA, aos quais devemos estar atentos.

Quatro assuntos podem ter especial relevância para a discussão: a política externa, as grandes empresas tecnológicas e a sua regulamentação, a política sobre as alterações climáticas e a política fiscal.

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Em relação ao primeiro ponto, o “duelo” entre a China e os Estados Unidos pode continuar, sendo a composição do Senado dos Estados Unidos, e não quem ganha as eleições presidenciais, um dos principais fatores de mudança. Para além desta importante área da política externa, uma administração Biden conduziria a uma linha de atuação mais confiável e menos volátil, enquanto um segundo mandato de Donald J. Trump significaria um “America First” ainda mais aguerrido.

Em 2020, e sem grande surpresa, a tecnologia está semanalmente no centro das atenções. E na véspera das eleições nos Estados Unidos, mais ainda.

Dois temas aglutinadores estão a afetar atualmente este setor e existe ainda outro que virá a afetá-lo: a proteção de dados e as regras antitrust, e uma potencial reforma tributária. As empresas tecnológicas mega caps irão ajustar-se aos dois primeiros – já o fizeram na Europa.

Claro, é o facto de esforços antitrust serem mais pesados ​​com Biden, assim como uma reforma tributária (sob a alçada de uma política fiscal).

Mas uma questão chave é saber se isso vai além da tecnologia: algo que seria mais provável num Senado de Biden e democrata, em que um esforço antitrust executado em todo o setor poderia representar uma ameaça para os mercados financeiros.

No entanto, todo o ruído em torno das empresas tecnológicas pode prejudicar o seu incrível desempenho.

Voltar a aderir ao acordo de Paris (do qual Trump fugiu), parece ser a maior diferença política entre uma administração Biden e uma administração Trump a nível das alterações climáticas. Nesta área, são várias as propostas de Biden: incentivos fiscais para emissões zero, descarbonização de fontes de energia, redução de emissões de transporte, melhoria da eficiência energética em edifícios, energia eólica offshore, regulamentação mais rígida sobre o petróleo (pressionando para um potencial aumento dos preços; mais ainda, com um aumento da demanda pós-Covid).

Quando se trata de política fiscal, é surpreendente como se podem traçar dois cenários extremos com Biden como Presidente: um estímulo fiscal muito significativo (priorizando a sustentabilidade), com mais um aumento sólido nos impostos para as empresas e os mais ricos se os democratas controlarem o Senado; ou um estímulo fiscal normal, com apenas um pequeno ajuste na tributação.

Os maiores impactos das forças opostas do primeiro cenário têm um resultado final que não seria tão diferente do cenário dois. Mas, é claro, com vencedores (energia limpa, transporte sustentável e habitação) e perdedores.

Voltando à montanha-russa de opiniões, artigos e emoções que começamos a analisar, surgiram recentemente duas notícias que podem exemplificar as estranhas combinações que veremos até ao dia 3 de novembro (e posteriormente): Biden a liderar as sondagens por dois dígitos e o Nasdaq a crescer mais de 2,5%.

Sente-se e acompanhe.