Não é uma desgraça no sentido de enfraquecer os partidos de direita na Europa. Os Trabalhistas de Corbyn fizeram tudo para associar Boris Johnson a Trump e não evitaram a maior vitória eleitoral dos Conservadores desde Thatcher. A última sondagem pan-europeia, realizada no mês passado, mostra que o PPE reforçaria a sua posição de maior grupo politico no Parlamento Europeu. Tirando as esquerdas radicais, ninguém na Europa associa os partidos de direita liberais e conservadores a Trump.

A desgraça reside no enfraquecimento da aliança entre a Europa e os Estados Unidos. O comportamento de Trump reforça a mensagem das esquerdas radicais de que os Estados Unidos são muito diferentes da Europa. A maior ameaça à relação transatlântica é a percepção de que as sociedades americana e europeias se regem por valores muito diferentes, senão mesmo opostos. Uma nova vitória eleitoral de Trump pode criar um fosso fatal entre a Europa e os Estados Unidos. Ao contrário do que diz Trump, a sua vitória em Novembro seria a melhor notícia para todos os que querem separar a Europa dos Estados Unidos, como a China, a Rússia, e as esquerdas radicais europeias. Não acreditem na propaganda política. Trump é o candidato preferido do partido comunista chinês, de Putin, do Bloco e do PCP. Todos eles desejam mais quatro anos de Trump na Casa Branca.

Para as direitas europeias liberais, conservadoras e democrata cristãs, a aliança entre a Europa e os Estados Unidos é fundamental. Defende a Europa contra o expansionismo russo; garante a defesa da economia de mercado e da iniciativa privada contras as várias ameaças de modelos económicos colectivos, hoje liderados pela China; e impede a fragmentação da União Europeia ou uma excessiva concentração de poder no eixo Berlim/Bruxelas (o qual cada vez mais substitui o eixo Berlin/Paris, apesar das conferências de imprensa conjuntas de Merkel e Macron). A Europa continua a precisar dos Estados Unidos para se proteger das ameaças radicais, internas e nas suas fronteiras, e para defender os seus valores no mundo.

A posição em relação aos Estados Unidos e a Trump também separa as direitas liberais e conservadoras da direita nacionalista, cujos expoentes máximos na Europa são a Frente Nacional em França e o AfD na Alemanha. Marine Le Pen e os nacionalistas alemães gostam de Trump, tal como gostam de Putin, e olham para ele como uma inspiração. Mas nunca defenderam a aliança entre a Europa e os Estados Unidos. Tirando Trump, são tão anti-americanos como as esquerdas radicais. As direitas liberais são pró-americanas e, por isso, não querem a reeleição de Trump.

Biden está na frente nas sondagens, nomeadamente nos Estados que vão decidir as eleições. No Outono, os Estados Unidos estarão em recessão e com elevados níveis de desemprego. Em condições normais, Trump perde. Mas pode beneficiar da vaga de protestos violentos que atingem várias cidades americanas depois da morte de George Floyd. Se a violência continuar, a questão da segurança e da ordem dominará a campanha. Biden terá que ser firme e condenar a violência. Por trás das manifestações violentas, estão grupos radicais que querem conquistar o partido democrata e impor a agenda socialista de Sanders. Só o conseguem se Biden for derrotado em Novembro. As direitas liberais e conservadoras europeias não devem ter qualquer ilusão. Uma nova vitória de Trump será uma tragédia política. Esta é a hora de desejar a eleição de um candidato democrata. É o futuro do Ocidente que está em jogo.

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