A questão é de fundo. O Turismo é mal-amado. O Turismo é perigoso. O Turismo é volátil. Ai a pandemia! Temos turistas a mais. Lisboa está infestada e não se pode andar! O Porto parece um centro internacional onde não se ouve falar português! Conversa de quem não sabe nada do que faz o Turismo por Portugal e acha que vive sem ele. Não vive. Não pode. Não há como.

Claro que sei que é um sector complexo. Claro que sei que é um sector flutuante. Mas também sei que temos condições fantásticas para ele e é uma forma de explorarmos as nossas riquezas naturais e edificadas. Terceiro-mundista, este pensamento, que é como se classifica por entre os bem-pensantes. Bom, eu percebo que devemos apostar na indústria (se nada mais houvesse, eu sou engenheiro, ora bolas!) mas tirando aqui e ali empresários de mão cheia que acreditam na indústria e nela investem não tenho visto um trabalho sério e consistente ao longo dos anos – por parte de quem seja, de associações a governos – para elevar a indústria a outro patamar. Não vou sequer falar do sector primário. Depois vêm os comportamentos primários do contra, os amuos, as donas de casa arrependidas. Muda alguma coisa? Não. Definitivamente precisamos de Turismo. Temos é de pensar que tipo de Turismo e em fazê-lo subir na cadeia de valor. Mas disto ninguém fala.

São várias as linhas que uso para pensar o Turismo. Uma abordagem integrada e estratégica para os próximos anos terá de fazer desta atividade um parente rico da nossa economia. Sem estigmas. Sem enganos. Precisamos do Turismo para a economia do país. O resto, bom, o resto é poesia. Podiam ser mil pontos. Deixo ficar 10 pontos que tenho apresentado em vários lados e ocasiões:

  1. Assumir o Turismo como grande atividade nacional: Não tenho qualquer dúvida em afirmar que devemos contrariar, mesmo combater, a ideia de que uma economia baseada no Turismo é uma economia fraca. Pode ser como pode não ser. Depende da forma como fizermos as coisas. Depende da forma como soubermos subir na cadeia de valor do Turismo. Quem não sabe o que é cadeia de valor melhor será começar a ler. Desígnio nacional: 20% do PIB a curto prazo. Sem medos.
  2. Pensar em como o turismo pode e deve fazer ponte para outras dimensões económicas importantes. O imobiliário (também mal-amado), o turismo como destino recorrente e os outros clusters como o vinho, o calçado, a horto-fruticultura, os objetos de cortiça e derivados, o vestuário, o couro, a cerâmica, o mobiliário e os objetos decorativos (tantos deles vindos das nossas raízes culturais e artesanato) serão fundamentais na equação. A restauração, meus amigos, quem não quer ter um país pejado de estrelas Michelin e os melhores chefs e restaurantes do mundo?
  3. Contribuir para a dessazonalização do Turismo. E, com isto, tornando todas as estações do ano boas estações para vir a Portugal. Seja porque organizamos summits, seja porque não há mal algum em passear no Algarve de inverno, no Douro vinhateiro, nos quilómetros de praias ocidentais ou na rara beleza do Alentejo frio. De verão como de inverno Portugal tem tudo para oferecer.
  4. Clusterizar o turismo e estratificar. Segmentar o Turismo. Desde o kosher ou do árabe ao capaz de satisfazer as necessidades dos mais exigentes. E é aqui que temos de encontrar soluções para subir na cadeia de valor. De melhor trabalhar os povos emissores: Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, Países Baixos, Dinamarca e restantes países nórdicos, por exemplo, mas também tantos outros povos que não trabalhamos bem, como Israel (judaísmo global) a muitos segmentos árabes, a quem podemos oferecer reminiscências de um passado longínquo mas com significado histórico e raízes profundas do que somos e na forma como nos devemos interpretar.
  5. Cuidar do(s) Territórios é para mim fundamental, não continuando as asneiras urbanísticas que se têm permitido em algumas regiões do país. Preservar, qualificar protegendo o que ainda temos de bom. E que é ainda muito. Se abastardarmos tudo, deixamos a história e perdemos a beleza do edificado embebido na paisagem. E é precisamente isso que faz também diferenças e cria sensações únicas.
  6. Oferecer uma cultura de acolhimento que, de resto, é natural. Mas onde devemos trabalhar porque sem serviço (que não é o mesmo que ser servil) não seremos hospitaleiros. Temos de continuar genuína e culturalmente hospitaleiros e abertos ao mundo. Isso é parte da nossa essência multicultural. E deve ser ensinado e perpetuado como raiz cultural. Vide ponto 9.
  7. Fortalecer a segurança. Para que a atividade seja estável em todas as suas dimensões e para que quem venha possa disfrutar de Portugal sem problemas de maior e usufruir do que é nosso e também um pouco seu.
  8. Mudar o mindset e as condições do trabalho ligado ao Turismo. Proporcionar condições diferentes que terão de emergir por via da subida da atividade na cadeia de valor.
  9. Formar. Formar muito. E há universidades para acolher todos quantos queiram formar-se a sério em Turismo. De graduação a pós-graduação. Desde a criação do seu negócio à participação em atividades de turismo variadas.
  10. Promover o acolhimento universitário. Seja por Erasmus, seja por experience weeks, seja por cursos breves ou mais longos, onde é fundamental exportar mais e mais ensino superior. Muitos destes estudantes apaixonam-se por Portugal e voltam como investidores e/ou como residentes. Para além do bom ensino que lhes proporcionamos eles ficam desde cedo a saber um aspeto fundamental que muitos dos nossos concorrentes não têm: aqui fala-se inglês. Como já tenho referido, Portugal é o ponto central de uma nova “Rota da Seda”.

Já agora um pequeno aviso à navegação: Comecem a fazer um novo aeroporto. Ao fim de tantos anos já pouco importa a localização. Sem ele não vamos conseguir crescer em Turismo. Parece tão óbvio que estamos todos fartos disto que seria melhor mesmo decidirem qualquer que seja a decisão. Há mais de 20 anos que dou para este peditório e nunca saímos do papel. Faça-se. E tome-se a decisão. Da noite para o dia já que não há soluções perfeitas. Num raio decente há várias soluções minimamente decentes. Por raio decente diria 50 km da capital. Estou a lembrar-me pelo menos de umas quatro possíveis localizações. Decidam por favor. Pelo Turismo. E por Portugal.

Nota final: Um Natal com coração a todos os que me leem e a todos os que não leem. Concordem ou não com o que escrevo, todos merecem um feliz Natal. É isso mesmo que desejo a todos.

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