Num País em que o Turismo tem a importância que tem em Portugal, é tema todos os dias do ano. Contudo, no dia 27 de setembro celebra-se o seu Dia Mundial e, como tal, é normal que ele mereça nesse dia uma atenção diferente e uma análise mais estratégica.

O Turismo é um dos pilares da nossa capacidade exportadora e tem sido, em várias crises, o grande motor da nossa recuperação. Mesmo depois destes dois anos muito difíceis relacionados com a pandemia, tudo indica que em 2022 se ultrapassarão os resultados de 2019, sem dúvida fruto do enorme esforço, competência e resistência dos nossos profissionais do Turismo.

Creio que, para lá de quaisquer argumentos ou opiniões, será óbvia a ligação entre o turismo e, sobretudo, os turistas em Portugal e a capacidade de os receber por via aérea. Por isso, é completamente incompreensível que andemos a discutir a construção de um aeroporto em Lisboa e a nossa necessidade de mais capacidade aeroportuária há várias décadas.

Decidir mal é definitivamente mau. Mas não decidir é muito pior. É extraordinário que sejam os empresários que, para além de fazerem empresas, promoverem o destino e criarem emprego, venham explicar exatamente isto ao Governo. Foi exatamente isto que fez a Confederação do Turismo ao publicar um estudo, noticiado em julho, que quantifica os custos de adiamento da decisão sobre o aeroporto.

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Este estudo analisa o impacto económico da não decisão sobre a implementação do novo aeroporto de Lisboa. E analisa vários cenários, sendo que neste momento tudo indica que serão os cenários que têm como pressuposto uma recuperação rápida do sector os realistas.

Assim, há dois custos possíveis em cima da mesa e, infelizmente, inevitáveis.

O primeiro é o que custará a Portugal e aos portugueses o adiamento da decisão se se optar pelo modelo Portela mais um (no Montijo). Estamos a falar de uma perda potencial de riqueza gerada até 2027 (uma vez que, ainda que a decisão seja tomada hoje, o aeroporto só estará construído nessa altura) de quase 7.000 milhões de euros, a que se soma a perda de 27.700 empregos que deixarão de ser criados anualmente e de cerca de 1.900 milhões de euros de receita fiscal que não será cobrada. Ou seja, até 2027, o custo do adiamento desta decisão será de aproximadamente 9.000 milhões de euros. Sacrificaremos 0,77% do nosso PIB e 0,95% do nosso emprego.

O segundo custo possível é muito superior e é construído assumindo o cenário de construção do novo aeroporto em 2034 (o que corresponde à solução Alcochete). Neste caso a perda estimada mais do que triplica, e Portugal perderá 21.400 milhões de euros, aproximadamente 40.000 empregos e 6.000 milhões de euros de receita fiscal.

 Convém ainda explicar que em 2015 a decisão estava preparada, e a opção era pelo Montijo, solução simultaneamente mais rápida e mais barata. Mas quando, no fim desse ano, o PS chegou ao Governo decidiu não decidir, e iniciou-se um período que dura até hoje de empalear a decisão, pelos motivos mais variados. Se o Governo PS tivesse optado por manter o que estava preparado, todos os custos apurados no estudo encomendado pela CTP não existiriam, e teríamos aeroporto no ano que vem. Foi este adiamento de 6 anos que tornou absolutamente inevitáveis os custos para Portugal.

Com o acordo a que PS e PSD parecem ter chegado, vamos ficar à espera pelo menos mais um ano por um novo estudo, que se somará a dezenas já existentes, numa estranha conjuntura política em que ninguém quer tomar decisões e ninguém quer responsabilidades. E o custo para o país a aumentar….

Certamente que, na semana em que se comemora o Dia Mundial do Turismo, todos falarão da sua importância, todos enaltecerão os seus profissionais e todos o proclamarão estratégico para Portugal. Mas será que alguém vai ser responsável o suficiente para fazer o que realmente é preciso e finalmente decidir?