Portugal é um país com DNA turístico e poucas são as pessoas que vivem no nosso país e não são impactadas por este sector de atividade, seja direta ou indiretamente, por negócio ou trabalho próprio ou por via de familiares. As pessoas por vezes esquecem-se que o turismo, na sua dimensão de estrangeiros que nos visitam, é um sector de exportação “consumida” no nosso país, de dinheiro e riqueza produzida além-fronteiras que entra na nossa economia, alicerçando-a e deixando aqui grande parte do seu valor acrescentado (bastante maior que o deixado por indústrias produtivas). Isso era verdade ontem e continuará a sê-lo amanhã. O nosso país não pode, por artes mágicas, passar a ser algo diferente do que é, não pode de repente vir a ser o “celeiro” do Mundo, o Silicon Valley do Atlântico, a Amazónia do hemisfério norte ou a Wall Street da Europa, mudando as suas fontes de riqueza de forma radical. Como no passado, o sector turístico será um dos cavalos de batalha da nova economia de guerra em que estamos e vamos continuar a estar durante bastante tempo. Não o ver, e falhar na atuação no sentido de o preservar e de o municiar de ferramentas para o combate, é um gigantesco tiro no pé. A pergunta é: o que fazer para que dos escombros dos bombardeamentos do vírus possa ser reerguida a nossa indústria de guerra, o Turismo?

A aposta no turismo nacional parece ser já uma prioridade do nosso Governo mas também dos restantes países europeus. Mas importa antecipar o turismo internacional, afinal o sustentáculo nos últimos humanos da recuperação económica pós crise de 2011.

Abordemos o impacto, imagem e eventuais propostas para o dinamizar.

Infelizmente nem tudo depende das ações e medidas do governo e das empresas e entidades turísticas (e seus trabalhadores) portuguesas. Mas ainda assim há muito que pode ser feito para trazer turistas estrangeiros a Portugal. A primeira medida será com certeza a de trabalhar a proposta de valor de Portugal como destino seguro. O nosso país está no topo do ranking mundial de segurança graças à baixa criminalidade, temos também de atingir a mesma performance no que diz respeito a segurança contra infeções como a Covid-19. Mas temos de o fazer de forma positiva, sem fundamentalismos, com medidas práticas que não façam com que “a cura seja pior que a doença”. Colocar barreiras à entrada que desincentivam a visita é contraproducente, como obrigar turistas a ficar em quarentena obrigatória à chegada ou, como é o caso do que a Grécia está a considerar implementar, pôr no turista o ónus da prova de não estar infetado para poder entrar no país. Pode fazer sentido testar de forma rápida e eficaz as pessoas à entrada em Portugal (atuando sobre casos suspeitos), mas também os turistas devem ser presumidos inocentes até prova em contrário.

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A nível micro, as unidades turísticas (hotéis, restaurantes, etc) devem implementar medidas que transmitam segurança e tranquilidade aos seus clientes, certificando-se formalmente de tal (é de louvar a iniciativa do Turismo de Portugal de criação do selo “Clean&Safe”. A liderança do Estado é bem-vinda desde que não venha (como está a dar perigosos sinais) burocratizar excessivamente a atividade turística e forçar exigências draconianas que por um lado sejam financeiramente incomportáveis por empresas que estão a lutar pela sobrevivência, e por outro transformem a experiência turística em algo que perca completamente o valor e a atratividade para quem dela usufrui, fazendo com que as pessoas pensem: se é para ter essa experiência então prefiro ficar em casa. Alguma restrição de carga/capacidade pode ser aceitável mas nenhuma empresa consegue sobreviver limitada a 33% do seu potencial de receita. Como é que um restaurante de 24 lugares pode evitar a falência se apenas for autorizado a sentar 8 pessoas? Ou um hotel de 150 quartos ter de vender apenas 50 por dia (mas tendo de manter recepção, restaurante, limpeza, etc)?

Portugal tem de capitalizar nas suas “forças” para com elas ir para a guerra. Somos um país com menor densidade populacional que muitos dos nossos concorrentes, com extensas zonas naturais, com centenas de quilómetros de praias (mais uma vez é aceitável limitar moderadamente a capacidade de carga das praias mas não de forma exagerada ou total, até porque até ver o vírus não sobrevive na areia ou na água do mar…), com, apesar de tudo, uma menor incidência deste vírus (em contágios e número de mortes), um país de bom clima (na cabeça das pessoas é melhor viajar para destinos quentes do que para em destinos frios), um sistema de saúde com capacidade de resposta, muitos hotéis e turismos rurais fora dos grandes centros urbanos com extensas áreas exteriores, entre outros. Estas serão algumas das armas com as que lutaremos no futuro para atrair turistas.

Proposta: implementação do “Selo Clínico” do Turista

Na era pós Covid-19, turistas internacionais voltarão a viajar por duas razões: fugir de áreas de insegurança (clínica) ou para encontrar um local seguro onde o contágio e transmissibilidade estejam controlados. Para lhes dar essa tranquilidade na escolha e Portugal ser esse destino de eleição uma série de medidas podem ser criadas numa óptica dum Selo Clínico do Turista pessoal e intransmissível.

Como se operacionalizaria?

À entrada:

  • teste de todos os turistas (de forma gratuita) nas entradas: fronteiras terrestres, marítimas e aeroportos;
    • articulação com certificados de imunidade emitidos por outros países.
  • a opção seria por testes rápidos de carga viral (45 minutos) para determinar doença activa;
  • doentes com doença activa teriam a opção de voltar para os seus domicílios ou cumprir isolamento nas respectivas unidade turísticas de destino.
  • estes testes poderiam ser repetidos durante a estadia a intervalo a definir (diário? 2/2 dias?):
    • de novo sem encargos para o turista e disponibilizados na unidade turística;
    • garante tranquilidade para o turista e garante salvaguarda epidemiológica para o País.
  • cartão do Selo Clínico do Turista com contactos e informações relevantes; registo individualizado;
  • app para o Turista; integrado na plataforma nacional em desenvolvimento; regime voluntário;

Estadia:

  • fornecimento de material de proteção individual por pessoa e para a totalidade da estadia (mascaras, luvas)
  • Saúde24 Turista: acompanhamento telefónico 24/24h em Inglês (e outras línguas relevantes para os mercados emissores de turistas);
  • monitorização por Unidade de rastreamento especifica (telefone/on-line)

Saúde:

  • criação de Seguro de Saúde obrigatório (oferta?) específico para necessidade de repatriamento (no caso de infecção/doença Covid-19 de novo) ou prestação de cuidados saúde (na unidade turística ou meio hospitalar); como referencia um seguro de viagem para 1 semana com coberturas ainda mais extensas que as sugeridas custa entre 10-20€ por pessoa/semana;
  • convénio com Unidade(s) Hospitalar(s) por região para assegurar eventual hospitalização.

Muitas destas opções poderiam ser oferta aos turistas como forma de os incentivar a vir e para as agências de viagens poderem incluí-los nos seus pacotes: oferta articulada como forma de subsidiação directa ao sector.

Finalmente, este enquadramento – Selo Clínico do Turista – seria alvo de campanha de divulgação e promoção internacional a tempo de estimular a escolha ainda para este Verão. Naturalmente mercados de proximidade (Europa) seriam prioritários. Viagens de curta duração por avião ou comboio, integradas com o pacote Selo Clínico, poderiam contribuir para atrair o pouco potencial que se prevê na emissão turística dos países europeus.

Temos de ter consciência de um fato: nos próximos meses/anos vamos ter de viver com este vírus e haverá pessoas infetadas. Mas em países onde o sistema de saúde esteja bem estruturado estas pessoas podem ser tratadas como riscos de morte minimizados. Portugal tem de ter a capacidade de sair desta pandemia de medo e de começar a trabalhar de forma responsável, mas corajosa, na reconstrução da economia, porque dela depende também a nossa saúde, ou melhor, todas as nossas “saúdes”.

O turismo pode dar uma grande ajuda, queiram os Governantes Disto Tudo permitir que tal aconteça, para o bem do país.