Já não posso ouvir a frase estafada dos comentadores de serviço, que o que interessa são as ideias e não as pessoas. Mas as pessoas não têm ideias? O líder deve ser um Zelig?

No CDS conhecemos as pessoas e as suas ideias (ou a falta delas) há muito tempo. Assim, portanto, o que há a fazer, é escolher uma pessoa que defenda – desde há muito – um conjunto de ideias.

Falhada a abrangência – aquela ideia peregrina, que um partido que nunca foi catch all, deveria passar a sê-lo – há que clarificar. Definir um rumo. Lutar por valores. Ser dogmático nas matérias em que se o deve ser.

Não existindo, até ao momento, qualquer candidatura credível, permito-me lançar um conjunto de condições, deveres e obrigações que o novo líder do CDS deverá satisfazer. Assim;

  1. Não estar gasto, e desgastado, na sua imagem pública, em apoio a vários líderes (alguns deles muito diferentes entre si).
  2. Ter tido a coragem de criticar a – ainda – actual Direção, não contribuindo com essa crítica, para um enfraquecimento do partido. Ou seja, ter colocado – sempre – acima dos seus interesses, o interesse do partido e do País.
  3. Ter a vontade, a coragem e a força para ser – e para querer ser – o novo líder do CDS.

Como se constata, não sou exigente, nem apresento um cardápio muito longo de características a respeitar.

E as, famigeradas, ideias? Quais aquelas que devem ser defendidas?

  1. As do liberalismo económico. Sim, aquelas que outros se quiseram apoderar, mas que são do CDS há décadas. No entanto, com a “pequena” diferença que o CDS, não culpando a sociedade pelas falhas individuais de cada um de nós, não abdica dos valores cristãos de prover aos mais necessitados, aos desafortunados. É muito apelativo pregar pelo desaparecimento do subsídio de desemprego quando se tem trinta e poucos anos, um canudo na mão e a hipótese de apanhar um avião para qualquer lado.
  2. Os valores tradicionais e civilizacionais, ou seja, os judaico-cristãos e ocidentais, que defendem a família como núcleo central da sociedade. Que defendem a vida, da concepção à morte natural. As que não renegam, nem denigrem, a história – no seu todo, ou em parte – do país a que pertencem.
  3. As ideias que defendem o direito de cada português a escolher a sua forma de viver, de acordo com as suas convicções religiosas, políticas e alimentares, bem como da sua orientação sexual. Sem que seja possível, a nenhuma dessas convicções, impor-se às outras.

Como se pode verificar, não é preciso inventar a roda, ou criar um novo partido. É ler, reler e voltar a ler, a carta de princípios do CDS. A verdade não caduca.

No fundo é fácil. Quem defende as teses de Friedman – 40 anos depois e sem ler a errata – está condenado a se contradizer. Quem perora por um género de anarquismo de valores – eutanásia, aborto, adopção gay, etc – acabará por colher os frutos dessa política. Podemos ser muito engraçados uma vez. Duas já é difícil. Três é impossível.

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Vale o mesmo para os espertalhões desta vida. Apontar o dedo a etnias, migrantes ou nacionalidades, pode colher em períodos em que se fala disso. Tende a morrer com o tempo. E vai acabar por morrer. Não é cristão nem está de acordo com os valores que o CDS deve defender.

Preocupemo-nos, pois, connosco. Se formos coerentes, convincentes e corajosos, não temos que nos preocupar com quem se senta ao nosso lado.

Para concluir, existem matérias em que o novo Líder deve ser radical. Chamem-lhe caderno de encargos se quiserem:

  1. Premiar a competência
  2. Dar lugar a novos valores
  3. Profissionalizar o partido
  4. Apostar nas novas formas de comunicação

E é isto. Não é necessário nenhum tratado político. Não chega o rato Mickey, mas também não é preciso que Cristo desça, de novo, à Terra.