Entrámos na última semana de campanha eleitoral. Estes são os dias do tudo ou nada. Os discursos dramatizam-se e os argumentos enfatizam-se. De repente passamos pelos noticiários e ficamos com a sensação de que tudo o que é importante depende do resultado das eleições de domingo.

Entretanto, numa rua ali ao lado vive-se noutro mundo. Eleições? Para quê? Ah é para a Câmara? Não sabia, eu não ligo nada a isso. São todos iguais. Não, eu não vou lá.

Na praça, um pouco mais à frente, o Primeiro-Ministro faz o anúncio: podem respirar, o hospital que esperam há 20 anos está pronto daqui a três meses.

Eleitoralismo! Grita o líder da oposição numa autarquia a umas centenas de quilómetros de distância.

Logo à noite, na televisão, vamos ouvir os comentadores dizerem que isto não está certo, o Primeiro-Ministro tem que saber separar as águas.

Há muitos anos que é assim. O país político organiza a campanha na sua bolha. O país real põe tampões nos ouvidos e agarra-se à Netflix. Não vale a pena ligar a televisão por estes dias. É mais do mesmo.

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Se isto refletisse um eleitorado maduro que não vai em conversas, seria bom. Mas o drama é que o eleitorado maduro, que exige um outro nível à classe política, não vota. Desiste de jogar porque os meninos fazem batota. Resultado: o jogo joga-se com quem está e votam os que beneficiam diretamente dos favores políticos.

É esta a história de que se fazem os nossos atos eleitorais ano após ano. Não gostamos dos políticos, mas também não temos disponibilidade nem vontade de ajudar quem chega com outro chip. Preferimos ficar a dizer mal no nosso grupo de amigos. E votar? Não, não estamos para isso.

Um estudo publicado recentemente diz que em eleições autárquicas o incumbente leva à partida 15 pontos percentuais de avanço. Se isto correspondesse à satisfação das pessoas com os seus representantes políticos era uma excelente notícia. Mas o problema é que não é esse o caso. Na realidade, o que isto quer dizer é que quem quer mudanças não participa e os incumbentes já têm o seu sindicato de voto conquistado.

Os políticos que temos não são diferentes do povo que temos. São a imagem da sociedade que somos. Inativa, sem impulso criativo, maledicente.

Se teve paciência para me ler até ao fim, faça um favor a si próprio, vá votar no domingo. A escolha é sua, não é de mais ninguém. E essa escolha pode mesmo fazer a diferença.