Não podemos adivinhar o que se passou na cabeça de Pedro Nuno Santos, mas é possível presumir cenários. Das duas uma: o ministro tentou um golpe palaciano para reduzir o peso político do primeiro-ministro ou marcou uma posição para mais tarde se desresponsabilizar do que vier a acontecer no aeroporto.

A decisão de Pedro Nuno Santos (PNS) para um dilema com 50 anos quando António Costa estava na cimeira da NATO em Madrid, fechado numa sala e sem acesso ao telemóvel contém todos os ingredientes de um golpe. Talvez o ministro considerasse possível um encolher de ombros do chefe do governo. Desconhecemos o que se passa nos meandros do poder socialista, mas a maioria absoluta, que apanhou todos de surpresa e que teve de ser encarada a contragosto, a que se junta a ideia que António Costa estaria disponível para um cargo europeu, podem ter contribuído para a percepção de um chefe agastado, cansado e indiferente. Se assim foi, PNS enganou-se e corrigiu a mão. Mas marcou uma posição.

Uma vez mais repito que não se trata de adivinhar, sequer supor o que pensou e desejou PNS, mas os resultados que advêm do que fez. E o que fez (decidir sem autorização superior a localização dos novos aeroportos e ficar no governo apesar de desautorizado) permite-lhe futuramente, e perante a continuação dos estudos exaustivos e das discussões permanentes, afirmar que se fosse ele a mandar o assunto estaria arrumado há muito. Como o próprio declarou na televisão: “acabou”.

Se assim for, PNS vai querer surgir como um político decidido que não hesita. É neste ponto que se torna perigoso. A história está pejada de líder decididos. Geralmente escolhem um caminho sem olhar a meios e indiferentes ao que se passa à sua volta, às consequências das suas deliberações. Escolhem uma obra e levam-na por diante custe o que custar ao país e ao povo. O que lhes interessa e move é algo que possam chamar de legado e que, de preferência, leve o seu nome. E PNS já tem um forte historial neste domínio, a começar na forma como conduziu a gestão da CP. Na altura (que não foi assim há tanto tempo) PNS referiu que por ele o assunto estava resolvido, no que foi entendido como uma crítica implítica ao ministro das finanças, João Leão. Pedro Nuno Santos precisava de dinheiro e, no seu ponto de vista, João Leão tinha a obrigação de lho dar. A PNS não interessavam os problemas que uma decisão dessas teria nos outros ministérios ou até na capacidade do Estado cumprir as suas funções sociais. Pedro Nuno Santos precisava daquele dinheiro e por ele  ‘assunto estava resolvido’. Há quem veja nisto insensibilidade e egoísmo; os seguidores de PNS ávidos de homens fortes vêem liderança.

Este tipo de comportamento foi repetido com a TAP onde o ministro está a queimar dinheiro dos contribuintes. E ainda agora com a solução que apresentou de três aeroportos. Obras na Portela, um novo aeroporto no Montijo para, mais tarde, construir um terceiro e desactivar os dois. A solução é tão cara e estapafúrdia, o modo como a tentou impor tão disparatada que a tese do homem decidido e que não olha a meios se torna adequada. As decisões de PNS têm duas características: são faraónicas e custam muito dinheiro que poderia ser utilizado noutras áreas que um socialista que se preze consideraria prioritárias. Mas para PNS não, porque para este ministro o importante é o tal legado. A obra que lhe permita mais tarde chegar mais longe. Independentemente dos estragos que possa causar. Até porque a falta de verbas para outros sectores não será responsabilidade sua, mas dos seus colegas que não se conseguiram fazer respeitar. É o comportamento típico dos prepotentes e PNS é um político prepotente e autoritário, do quero, posso e mando, logo, alguém perigoso que devia ser posto no lugar. É para isso que as democracias servem, seja através do voto seja através das diversas instituições que compõem um estado de direito. É também para isso que existe um primeiro-ministro.

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