Sustentabilidade, um vocábulo muito em voga. Em determinas zonas do planeta o desperdício abunda. Noutras, os recursos esgotam-se. Para alguns, esta palavra assumiu repentinamente grande relevo, em jeito de adjetivo, na busca de medidas “ecológicas”, “verdes”, “sustentáveis”. Para outros, vale o que já representava, um substantivo de real substrato que reflete autenticidade no modo como impactam o meio em que vivemos. Têm uma clara visão holística de gestão pessoal ou empresarial dos valores económicos, ambientais e sociais, ao serviço dos recursos que temos ao dispor, num comportamento natural e espontâneo de legado de planeta para as gerações futuras.

É o caso de Gerda Steyn, uma atleta sul-africana de 29 anos, que correu em 2019 uma maratona muito célebre por terras de “Madiba”, denominada “Comrades Marathon”. Invulgar, com 90kms de distância, a prova invoca a sustentabilidade no seu lado mais puro, pois remete para uma superação de “camaradas” que há mais de 100 anos fizeram aquele percurso ajudando-se mutuamente para chegarem ao destino. Alguns estavam feridos, outros estavam mais fortes, os recursos não eram fartos e só a entreajuda e os sacrifícios conjuntos foram o sustento do êxito para chegar a “bom porto”.

Nesta prova Gerda venceu, bateu o recorde feminino que datava de 2006. Batalhou contra a distância e a amplitude térmica e teve ainda de gerir o esforço e o ritmo empregue pela forte concorrência, num corrupio de sobe e desce constante entre montanhas e vales. Eu próprio já fui testemunho da dificuldade emocional e física ao longo daqueles 90 quilómetros. Mas Gerda fez algo diferente…

Ela passou por 40 postos de abastecimento ao longo do percurso, entre líquidos e sólidos. Os mais consumidos pelos 25 mil atletas são umas bolsas de plástico que contêm água para os hidratar na epopeia que têm pela frente — 2,5 milhões de bolsas de 15cl, as quais são descartadas pelos participantes e se amontoam estrada fora. Mas para esta grande campeã (adjetivo) e verdadeira vencedora (substantivo), pensar um mundo diferente e sustentável depende mais de nós do que indicadores impostos.

Competia para a vitória, tinha de manter o ritmo gerindo as suas forças, a energia que lhe restava e as valências das suas competidoras. Mas jamais perdeu o seu substantivo de preservar de forma sustentável aquela área de natureza encantadora, que serve de palco à prova. Em média, apanhou duas saquetas de bebidas por cada estação, 80 no total. Recolheu-as, ingeriu o líquido, mas nunca atirou esses sacos de plástico vazios para o solo. Em lugar disso, guardou-os debaixo do seu top de corrida até encontrar um recipiente adequado para os despejar. Para ela a vitória teria de ser em ambas as frentes.

Claramente, este é um exemplo que o mundo empresarial deveria reter. Ser sustentável será em vão se não começarmos pelas mudanças de comportamento humano. Em 2015 foram definidos “17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” pela Assembleia das Nações Unidas, com novas metas a serem traçadas para diferentes nações e povos até 2030. Mas tal como a Gerda deixou bem claro, não podemos viver apenas de metas, conceitos ou indicadores. É preciso mudarmos a nossa forma de estar e agir, tal como Gerda tão bem fez ao utilizar o desporto com uma simplicidade de conduta que deixou marca. Se assim for, o mundo verá a diferença ser feita. Bem-Haja Gerda Steyn!

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