Estamos, há muito, bem conscientes das condicionantes inerentes à localização geográfica de Portugal. Aquilo de que nunca nos apercebêramos era de quanto a hidrografia ajuda a explicar o atraso do nosso país. Eis senão quando, nos últimos dias, ficámos esclarecidos para onde pretende correr o Rio. Pois bem, logo que saírem os resultados das eleições de Janeiro de 2022, não será de espantar se Rio correr, não em direcção ao mar, como é comum aos rios, mas para os braços do Partido Socialista. O que é lamentável. E é azar, também. É azar porque podíamos ter, por cá, apenas daqueles rios que, sendo normais cursos de água, correm por efeito da força da gravidade. Lamentavelmente, calhou-nos um Rio que parece não se dar conta da gravidade de continuarmos a ter o PS no Governo.

Por tal, na passada segunda-feira Rui Rio admitiu negociar, caso resultar das legislativas um governo minoritário do PSD, ou do PS, um acordo parlamentar com os socialistas para meia legislatura. E aqui, atenção, não me interpretem mal. Tudo nesta ideia de Rui Rio é péssimo. Mas é impossível não notar que, sendo a ideia integralmente horrível, acaba, de todo o modo, por fazer algum sentido. Se não reparem: um acordo para meia legislatura era a proposta previsível vinda de um indivíduo que é meio líder do PSD, meio fã do PS. Acaba por ter uma certa lógica, tenham paciência.

Aqui chegados, resulta óbvio aquilo de que o PSD precisa neste momento. E não, se pensavam que me referia a um programa de governo claro, desenganem-me. Refiro-me, claro, a um plano hidrológico. Sim, sim. O PSD precisa, e é com carácter de urgência, de um plano hidrológico capaz de desviar este Rio do curso que ele pretende seguir. Que temo, em breve, nos afogue numa lamacenta enchente de bloco central. Na eventualidade de não ser possível desviar o Rio do seu curso, sugiro, no mínimo, a construção de uma barragem. Eh pá, para, pelo menos, conter o homem. Contém-se o Rio na barragem e deixa-se o sol fazer o resto. Fazendo fé na Engenheira de Barragens, Catarina Martins, lá para a primavera do próximo ano já o Rio se terá evaporado.

Não há de faltar, ainda assim, quem considere esta estimulante solução de Governo, preconizada por Rui Rio, um estupendo exemplo de realpolitik. E aos que partilham dessa opinião, deixo dois recados. O primeiro recado é para deixarem de se armar em bons a utilizar palavras em estrangeiro. E o segundo recado é que, se quiserem mesmo armar-se em bons utilizando palavras em estrangeiro, pelo menos escolham as palavras correctas. Sim, porque o termo que procuram para esta posição abstrusa de Rio não é realpolitik. O vocábulo que buscam é, antes, nãofazqualquerespéciedesentidotalpolitik.

Bom, mas se é verdade que Rio aprecia serpentear-se pelo oásis socialista, tal só é possível mercê do soberbo trabalho levado a cabo pelo executivo de António Costa. Deixo só um reparo ao nosso habilíssimo primeiro-ministro. Sendo indiscutível a habilidade de Costa para a política, é surpreendente a falta de jeito do líder do Governo para treinador de desportos colectivos. É que, se juntarmos à não convocatória de Gouveia e Melo para o já semi-caótico processo de vacinação com a terceira dose contra a Covid, a permanência no Governo de ministros como Eduardo Cabrita, Tiago Brandão Rodrigues, ou João Gomes Cravinho, constata-se o óbvio. Enquanto mister de modalidades de equipa, António Costa percebeu tudo ao contrário: o homem não só mexe em equipa que ganha, como se recusa mexer na equipa que faz perder a paciência aos portugueses. Agora que penso nisso, se calhar Costa só não mexe na equipa governativa porque não consegue deitar a mão a Eduardo Cabrita. É do conhecimento público que o Ministro da Administração Interna, nomeadamente quando se desloca na sua viatura oficial, se mexe mesmo muito rápido. Só não é do conhecimento público quão rápido.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR